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    Claudia Costin

    Educar melhor

    23/06/2017 02h00

    Rivaldo Gomes - 29.mar.16/Folhapress
    Escola estadual Antonio Vieira de Souza, em Guarulhos, na Grande São Paulo
    Alunos assistem aula em escola estadual de Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo

    Nesta semana esteve no Brasil a educadora Joanne Weiss, que coordenou, no governo Obama, o esforço de elaboração de orientações curriculares da pré-escola ao último ano do ensino médio. O esforço foi apoiado por incentivos para Estados que a ele aderissem e envolveu mais do que apenas redigir o conjunto de competências que se esperava que os alunos alcançassem a cada ano de escolaridade. Incluiu capacitação de professores, modelos de avaliação e materiais de apoio aos docentes.

    Ao ouvi-la falar sobre acertos e erros da estratégia americana, em que 46 Estados acabaram adotando o que ficou conhecido como Common Core, pensei na nossa realidade. Em meio à maior crise fiscal e institucional dos últimos anos, quando há poucas possibilidades de um diálogo equilibrado envolvendo interlocutores com visões políticas diferentes, uma iniciativa pública avança de forma consistente: a criação de uma Base Nacional Comum, prevista na Constituição de 1988, que deverá fixar o que os alunos devem aprender.

    Diferentes ministros, desde 2015, participaram do esforço, e o documento, depois de ampla consulta e duas versões depois, está agora no Conselho Nacional de Educação (CNE) para ser analisado. Corretamente, o CNE decidiu realizar audiências públicas regionais para ouvir sugestões, antes da decisão final.

    Mas, segundo Joanne, esta é a parte fácil do trabalho: redigir o que deve nortear o trabalho das escolas, estabelecendo direitos de aprendizagem dos alunos em termos de competências que se espera que desenvolvam. O difícil será a implementação, sem falar que ainda não estamos analisando a parte referente ao ensino médio, talvez a mais difícil e polêmica.

    Não adianta ter uma Base apenas para mostrar aos visitantes. Ela precisa acontecer na sala de aula e isso requer envolver Estados, municípios e escolas na tradução da Base em currículos, preparar, com os professores, materiais instrucionais alinhados à Base, sejam livros, aulas digitais ou cadernos pedagógicos, e promover avaliações que forneçam informações aos docentes e aos gestores sobre a aprendizagem dos alunos.

    No entanto teremos perdido uma grande oportunidade se não aproveitarmos este momento para rever a formação de professores no país. As licenciaturas estão ainda muito distantes da prática docente e não preparam para uma profissão, enquanto a formação continuada em serviço não valoriza a equipe de trabalho na escola e reforça o academicismo da formação inicial.

    Se não enfrentarmos essa questão com coragem, como fizeram os países que contam com bons sistemas educacionais, continuaremos patinando. Precisamos educar melhor as futuras gerações.

    claudia costin

    É professora da FGV e professora-visitante de Harvard. Foi diretora de Educação do Bird, secretária de Educação do Rio e ministra da Administração. Escreve às sextas-feiras.

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