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    Claudia Costin

    Charlottesville mostra a urgência do ensino do Holocausto nas escolas

    18/08/2017 02h00

    Mykal McEldowney/The Indianapolis Star/Associated Press
    In this photo taken Friday, Aug. 11, 2017, multiple white nationalist groups march with torches through the UVA campus in Charlottesville, Va. Hundreds of people chanted, threw punches, hurled water bottles and unleashed chemical sprays on each other Saturday after violence erupted at a white nationalist rally in Virginia. (Mykal McEldowney/The Indianapolis Star via AP) ORG XMIT: ININS102
    Protesto de neonazistas e supremacistas brancos em Charlottesville, nos EUA

    Assistindo aos vídeos sobre Charlottesville e às ambíguas declarações da Casa Branca sobre o episódio, ocorreu-me que nunca foi tão urgente ensinar sobre o Holocausto e incluí-lo nos currículos escolares. As lições do passado precisam ser repassadas às novas gerações para diminuir o risco de repetirmos os mesmos erros.

    A geração que vivenciou o drama está indo embora e, em breve, os supremacistas brancos e o discurso de ódio parecerão novidades, prontas a inflamar jovens frustrados com um presente infeliz, ansiosos para encontrar inimigos e saídas tão fáceis quanto equivocadas. A busca de culpados externos para os nossos males tem sido um expediente frequente de políticos manipuladores e caem bem em populações sem amadurecimento político.

    Daí a urgência de avançar na Base Nacional Comum Curricular, que vem sendo debatida em audiências públicas pelo Conselho Nacional de Educação, e fortalecê-la com um bom conjunto e sequenciamento de conhecimentos, habilidades e competências. Um país com uma educação de qualidade sofrível se torna captura fácil de líderes fisiológicos ou messiânicos, que ou pensam pequeno ou buscam anular o potencial de contribuição dos indivíduos.

    São conteúdos associados à competência de ler e interpretar textos, pesquisar, pensar criticamente e resolver problemas que podem ajudar a formar jovens autônomos e cidadãos plenos. Além disso, entender bem os desafios vividos pela humanidade no século 20 e como eles se transpõem para nosso século permite uma compreensão mais profunda do que está em jogo hoje.

    A Base incorpora competências socioemocionais no trabalho a ser desenvolvido pelas redes de ensino. Isso significa que os professores irão promover atividades em que, além de aprenderem conceitos e aplicá-los em situações concretas, os alunos serão instados a ser protagonistas, ter empatia, persistência e resiliência.

    Ora, não é possível desenvolver essas competências e, ao mesmo tempo, mostrar-se alheio ao sofrimento de partes importantes da população. Um jovem que consegue ter empatia tende a não discriminar ou olhar para o outro com desprezo.

    Para que a Base tenha impacto, naturalmente, não basta que ela seja aprovada e traduzida em currículos estaduais e municipais. É igualmente importante formar professores aptos a desenvolver esse trabalho, daí a importância de complementá-la com parâmetros para a formação e seleção de professores.

    Um esforço como esse não resolve sozinho o problema das ameaças que se vislumbram no mundo hoje, mas pode atuar como uma preparação de cidadãos mais aptos a resistir a visões que propõem o extermínio dos diferentes. "No pasarán!"

    claudia costin

    É professora da FGV e professora-visitante de Harvard. Foi diretora de Educação do Bird, secretária de Educação do Rio e ministra da Administração. Escreve às sextas-feiras.

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