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    Claudia Antunes - Cláudia Pires de Paula Antunes

    Continuidade golpista

    28/06/2012 03h00

    RIO DE JANEIRO - Com cláusulas democráticas na maioria dos tratados regionais, os golpes na América Latina agora vêm embrulhados em aparência de legalidade. Mas existe uma continuidade clara entre o que aconteceu no Paraguai e intervenções militares do passado.

    Os golpes da Guerra Fria, saudados na região pelas marchas "com Deus pela liberdade", ocorreram, em última instância, para evitar a democratização da propriedade, por meio das reformas agrária e urbana.

    O anticomunismo tinha bases reais, mas aqui justificou o veto a medidas distributivas que já vigoravam nos países avançados e que -para vencer a batalha ideológica da época- os americanos impuseram ao Japão depois da Segunda Guerra.

    Sob ditaduras concluiu-se a "modernização conservadora" regional, preservando a estrutura de antigas sociedades rurais. Por isso, boa parte do campo brasileiro continua sendo uma teia de grilagens e irregularidades, semelhante à que os brasiguaios que apoiaram a deposição de Fernando Lugo pretendem preservar.

    Um estudo publicado neste ano pela ONG britânica Oxfam, com dados do Banco Mundial e da OCDE (clube de países industrializados), mostra com números a situação defendida pelas forças que depuseram Lugo, por sua vez inepto e fraco demais para promover mudanças.

    As pequenas propriedades rurais são 83,5% do total no Paraguai, mas ocupam só 4,3% das terras cultivadas. Num país com mais de 50% de pobres, carente de políticas sociais, a carga tributária é de 13,7% do PIB –é de 35% no Brasil e de cerca de 20% na média dos latino-americanos.

    O sistema tributário paraguaio é regressivo ao extremo. Pessoas físicas não pagam Imposto de Renda e dois terços do que o governo arrecada vêm de taxas sobre consumo. Os negócios agropecuários –cerca de 30% da economia– contribuem com apenas 1% dos impostos pagos.

    claudia antunes

    Escreveu até julho de 2012

    Jornalista carioca, formada em jornalismo pela UFRJ, foi coordenadora de redação da Sucursal do Rio da Folha (2000-2005), editora de "Mundo" (2006-2009) e repórter especial do jornal até 2012. Antes, trabalhou por 13 anos no "Jornal do Brasil", onde foi editora de "Internacional".

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