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    Cláudia Collucci

    Câncer da personagem Nicole é curável em 90% dos casos

    30/07/2013 03h10

    DE SÃO PAULO - Não quero ser a chata de plantão, nem cri-cri com as licenças poéticas dos autores de telenovelas. No entanto, em se tratando de educação em saúde, é sempre bom pontuar quando algum tema abordado na TV tem erros ou imprecisões.

    É o que está acontecendo na novela "Amor à Vida" (Globo), na qual Nicole, personagem vivida pela atriz Marina Ruy Barbosa, recebe o diagnóstico de um "câncer agressivo", o linfoma de Hodgkin tipo IV, e deve morrer nos próximos dias.

    Diferentemente da abordagem na novela, o linfoma de Hodgkin (LH) tipo IV, é altamente tratável, tem índice de cura entre 80% e 90%, segundo a ABHH, Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular.

    O diretor da ABHH, Carlos Chiattone, explica que o tumor que afeta Nicole ocorre em 10% a 20% dos doentes, normalmente crianças, sendo mais comum no sexo masculino (numa proporção de aproximadamente três para dois).

    "Pode ser considerado um modelo de doença oncológica, por ser o primeiro tumor sólido a ser curado, com tratamento efetivo e direcionado", afirma o hematologista, que também é professor da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo.

    Atualmente, a terapia que mais aumenta a chance de cura e qualidade na sobrevida é a quimioterapia associada ao uso de anticorpos monoclonais --este último ainda não disponível da rede SUS para todos os tipos existentes de linfoma.

    "Quando a doença é mais grave ou a pessoa teve recaída, daí entramos com o transplante de medula óssea, como terapia de salvamento, o que poderia ser o caso da personagem", diz.

    Para ele, é importante o fato de o tema ser abordado em uma novela de horário nobre, atingir milhares de expectadores e, com isso, disseminar conhecimento que sempre ajuda no diagnóstico precoce.

    "Entretanto, no caso da personagem Nicole, o tema é abordado com um tom de que não há mais esperança para ela, que seu caso é terminal, o que distancia o público da verdade sobre a doença."

    Tudo bem que o objetivo da trama não era mesmo "salvar" Nicole. A morte, inclusive, teria sido uma "punição" do autor para o fato de a loirinha ter se recusado a raspar o cabelo durante a quimioterapia. Em breve, ela voltará à novela como fantasma, para assombrar a vida do viúvo sacana.

    Não é a primeira vez que a novela "Amor à Vida" derrapa no tema saúde. No início da trama, Luana (Gabriela Duarte) dá entrada na maternidade com uma crise hipertensiva, sofre uma parada cardíaca, a equipe tenta ressuscitá-la com desfibrilador, mas ela morre em pleno trabalho de parto. Dois erros em uma única cena: não se usa desfibrilador nesses casos e, por se tratar de uma gravidez de risco, deveria ter sido feita uma cesárea, não parto normal.

    Ficção é ficção, eu sei. Mas, para quem está enfrentando na vida real um câncer igual ao da Nicole, é um alento saber que a doença não é uma sentença de morte.

    cláudia collucci

    É repórter especial da Folha, especializada em saúde. Autora de "Quero ser mãe" e "Por que a gravidez não vem?" e coautora de 'Experimentos e Experimentações'.
    Escreve às terças.

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