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    Cláudia Collucci

    Fila de consulta para neurologia é de 248 dias

    08/10/2013 03h00

    Quando poderemos ter mais controle dos agendamentos e dos atendimentos do SUS?

    Por que não podemos ter no SUS um sistema de agendamento eficiente como hoje já temos nas unidades do Poupa-Tempo e na Polícia Federal?

    Quem formula essas questões é a Regina, uma mãe que tentou durante cinco meses agendar uma consulta de neurologia infantil em São Paulo para a filha. Ela nos relata a via-crucis:

    "No dia 22 de abril levei minha filha menor, Irene, 6 anos, na UBS Alto de Pinheiros para uma consulta com a pediatra. Depois de examiná-la, a médica registrou o diagnóstico de tetra paralisia cerebral e transtorno do espectro autista e a encaminhou para uma consulta com especialista em neurologia infantil para acompanhamento e relatório para benefícios.

    Dei entrada com a solicitação na UBS nessa mesma data e fui informada de que não havia disponibilidade e nem previsão de data e local de consulta nos próximos dois meses. Fui informada que minha filha ficaria numa fila de espera e que eu receberia uma ligação com previsão de local e data, embora não tenham me informado quando receberia essa ligação.

    Depois de quatro semanas liguei para a UBS e fui informada de que não havia como passar a informação por telefone. Compareci à UBS nos meses de maio e de junho, sendo informada que até então nada. Que eu continuasse aguardando uma ligação. Hoje, 03/09/2013, compareci novamente à UBS. Continuamos na fila, continuamos sem nenhuma informação e sem nenhuma previsão de atendimento.

    Anoto o número de telefone da Ouvidoria de Saúde do Centro Oeste e ligo dez vezes, com intervalos regulares de 30 minutos. O telefone está sempre ocupado. Na 11ª tentativa, sou atendida e registro minha queixa e as perguntas: Qual a previsão de atendimento? Onde será o atendimento?"

    Assim como Regina, milhares de outras pessoas amargam meses à espera de consultas e procedimentos não só em São Paulo, mas em todo o país. E pior: não têm a mínima ideia quando será essa consulta. Em algumas especialidades, o tempo médio de espera só para agendar a primeira visita ao especialista é de três meses.

    Em junho, haviam 365.485 pedidos de pessoas à espera de uma primeira consulta, segundo levantamento da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo. Havia ainda fila de espera por consultas com médicos cirurgiões (65.532) e outros profissionais da saúde (103.962).

    A secretaria disse que trabalha para reduzir o tempo de espera para as consultas com especialistas no município, com a construção das primeiras unidades da Rede Hora Certa, que reunirá consultas, exames de apoio diagnóstico e cirurgias eletivas. Informou ainda que abrirá concurso público para a contratação de mil médicos.

    Sobre o caso específico de Regina, a secretaria informou que o tempo médio para uma primeira consulta com neurologista infantil é de 248 dias. Sim, isso mesmo: 248 dias. Mas, surpreendentemente, após o questionamento da Folha, a consulta de Irene foi agendada para a próxima sexta-feira, dia 11 de outubro.

    Não precisaria ser assim. No sistema público de saúde do Reino Unido, por exemplo, há regras claras sobre a fila de espera. O cidadão não pode esperar mais que 18 semanas para iniciar o seu tratamento, inclusive cirurgias, e pode acompanhar como anda a fila em que está. Casos mais urgentes, como câncer e doenças cardíacas, têm prioridade no atendimento.

    Claro que lá também tem chiadeira em relação à demora do atendimento, como podemos ver neste link, mas o sistema de saúde faz valer o direito do cidadão de, no mínimo, saber quando será atendido.

    Faço minha a pergunta da Regina: Por que não podemos ter no SUS um sistema de agendamento de consultas mais eficiente?

    cláudia collucci

    É repórter especial da Folha, especializada em saúde. Autora de "Quero ser mãe" e "Por que a gravidez não vem?" e coautora de 'Experimentos e Experimentações'.
    Escreve às terças.

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