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    Cláudia Collucci

    O lado B das estatinas

    19/11/2013 03h05

    "Eu não tomo mais [estatina]. Me deu uma gastura, doía o corpo todo", comenta uma senhora com a colega na fila do caixa de um mercado.

    A conversa partiu de uma notícia na TV sobre as novas recomendações para a prevenção de infarto e derrame lançadas pelas duas principais associações americanas de cardiologia na semana passada, que vão mudar a forma como os remédios contra colesterol são prescritos nos EUA. Leia reportagem sobre o tema

    A notícia continua repercutindo nos EUA e foi um dos principais temas discutidos no congresso da American Heart Association, que começou em Dallas no último fim de semana.

    Segundo as novas diretrizes americanas, as estatinas (como Crestor e Lipitor) devem ser prescritas para pessoas sem doença cardiovascular com um risco de 7,5% ou maior de infarto ou AVC (acidente vascular cerebral) nos próximos dez anos.

    Ao ouvir o diálogo, pensei sobre a pouca importância que os médicos, os pesquisadores e a imprensa de uma forma geral dão a uma questão tão cara ao paciente: os efeitos colaterais dos remédios, que fazem com que muitos desistam deles.

    No caso das estatinas, os médicos sempre fazem questão de frisar que os benefícios superam em muito os riscos. Mas muitos pacientes não pensam duas vezes em largar o medicamento para se livrar dos seus efeitos indesejáveis.

    Ano passado, esses remédios foram ligados a um risco de causar diabetes tipo 2, problemas cognitivos e dores musculares, segundo alerta da FDA (agência que regula fármacos e alimentos nos Estados Unidos).

    A associação do remédio com o diabetes e as dores musculares já era conhecida. O risco de ter diabetes tipo 2 é maior para quem é obeso e tem pressão, triglicérides e glicose mais altas.
    As dores musculares também são comuns. Representam a maior queixa de quem toma as estatinas. Além delas, o paciente pode sentir cansaço ou fraqueza nos músculos.

    Ocasionalmente, o uso da estatina também pode causar danos ao fígado, aumentando a produção de enzimas que ajudam a digerir alimentos, bebidas e medicamentos. Se o aumento for grave, será preciso trocar de medicamento. Também há relatos de náuseas, gases, diarreia ou prisão de ventre.

    Já a perda de memória e a confusão mental relatadas pela FDA, que foram observados após o uso de todos os tipos de estatina e em pacientes de todas as idades, pegaram alguns médicos de surpresa porque os sintomas não aparecem em muitos dos estudos clínicos.

    Ainda que as reações desapareçam após a interrupção do remédio, os pacientes precisariam estar mais bem informados sobre os efeitos colaterais dessas drogas e as providências que devem tomar caso venha a enfrentá-los. E, mais do que nunca, serem incentivados a adotar hábitos saudáveis de vida (dieta balanceada e atividade física) antes do uso das estatinas.

    cláudia collucci

    É repórter especial da Folha, especializada em saúde. Autora de "Quero ser mãe" e "Por que a gravidez não vem?" e coautora de 'Experimentos e Experimentações'.
    Escreve às terças.

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