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    Cláudia Collucci

    Dilemas da obesidade infantil

    26/11/2013 03h00

    "No SUS praticamente não há nada, nem para adulto nem para criança. O tratamento é esperar que a pessoa vire obesa mórbida e seja operada."

    O desabafo da médica do HC Maria Edna de Melo, ligada ao ambulatório de obesidade infantil, resume dimensão do abacaxi que o país precisa urgentemente descascar: a epidemia de obesidade que já começa na infância e a falta de tratamento. Leia mais sobre o assunto aqui.

    As causas, como sabemos, são muitas, mas os maiores vilões são os fast food, salgadinhos e guloseimas e as horas passadas em frente da TV ou jogando videogame, sem atividade física.

    Não podemos esquecer, porém, o peso das características genéticas. Milhões de anos atrás, sobreviveram nossos ancestrais que tinham genes capazes de estocar calorias e transformá-las em energia.

    Isso quer dizer que muitos de nós temos genes que favorecem o aparecimento da obesidade. Se o ambiente for favorável (e é), ela irá manifestar-se.

    O risco já começa na gestação. Estudos mostram que se a mãe já engravida acima do peso ou engorda muito durante a gestação, favorece o desenvolvimento da gordura no primeiro ano de vida da criança.

    Ninguém sabe ainda como isso acontece, mas suspeita-se que a mãe deva passar algum neuro-hormônio que faz com que o hipotálamo mande uma mensagem para a criança armazenar mais energia e ela estoca gordura.

    Mas, calma lá, mães. Isso não quer dizer que bebês gordinhos serão adolescentes ou adultos obesos. É claro que se os pais forem obesos, o risco aumenta. Mas, com o passar dos anos, essa relação vai perdendo força e desaparece na adolescência, quando tem importância o excesso de peso do próprio adolescente como determinante da obesidade na fase adulta.

    E como evitar que seu filho se torne um obeso? São vários (e difíceis) os caminhos. Um estudo feito no Hospital das Clínicas, por exemplo, mostrou que mais de quatro horas de TV por dia estão associadas à obesidade das crianças.

    Outro fato: são minoria as crianças que comem verdura. Os pais devem insistir que a elas experimentem um pouquinho todos os dias. Desde pequena ela deve saber o que é uma boa refeição: arroz, feijão, carne (de preferência assada ou cozida), legumes, salada. O leite e seus derivados também são muito importante.

    E os fast food e podritos em geral? Os especialistas dizem que não adianta proibir. A criança pode comer, mas só de vez em quando.

    Não faltam receitas para evitar o sobrepeso e a obesidade infantil. A questão é como cumpri-las. O envolvimento da família é fundamental mesmo que as outras pessoas não estejam acima do peso. Se estiverem, aí então nem se fala. Não é mais uma questão de estética, é de saúde.

    cláudia collucci

    É repórter especial da Folha, especializada em saúde. Autora de "Quero ser mãe" e "Por que a gravidez não vem?" e coautora de 'Experimentos e Experimentações'.
    Escreve às terças.

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