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    Cláudia Collucci

    Os senões dos senões da vacina contra o HPV

    29/01/2014 21h23

    Recebi hoje uma carta assinada pelas sociedades brasileiras de Imunizações (SBIm) e de Pediatria (SBP) questionando as colocações do médico Rodrigo Lima sobre a vacinação contra o HPV, contidas em texto publicado na última coluna.

    "A Sociedade Brasileira de Imunizações e a Sociedade Brasileira de Pediatria enfatizam a importância da vacinação contra o HPV na prevenção não apenas do câncer de colo uterino, mas também de neoplasias em outros órgãos (ânus, pênis, boca, vagina etc.).

    Sabemos que o câncer de colo do útero é o segundo mais frequente entre as brasileiras –o Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima em 18 mil o número de novos casos diagnosticados por ano, infelizmente com alta mortalidade, a despeito da existência do teste preventivo papanicolaou.

    As milhões de doses já aplicadas em todo o mundo atestam a segurança e a eficácia das vacinas hoje disponíveis. No caso específico do HPV, países como Austrália, Canadá, Estados Unidos, Inglaterra, entre outros, introduziram a vacina em seus programas públicos de imunização e hoje já colhem bons resultados na prevenção.

    Temos absoluta convicção de que a melhor forma de enfrentarmos o câncer de colo de útero é a estratégia que combina a prevenção primária (vacina), que é a forma mais eficiente de evitar a infecção, com a secundária, que detecta as lesões de colo (papanicolaou).

    Não podemos ignorar que esse tipo de informação [o texto do Rodrigo Lima] não contribui para o esclarecimento adequado da população a respeito da doença e suas formas de prevenção, justamente no momento em que o programa Nacional de Imunização (PNI) se prepara para a disponibilização dessa importante vacina para as meninas brasileiras. A seguir, destacamos alguns dos principais equívocos:

    1. "A eficácia da vacina foi verificada apenas em meninas sem vida sexual". Não é verdade. Os estudos que permitiram o licenciamento da vacina incluíram também mulheres com vida sexual ativa, em número suficientemente elevado para permitir conclusões categóricas quanto à eficácia e segurança.

    2. "... podemos dizer que se alguém já iniciou sua vida sexual a chance de ter sido contaminado pelo vírus é de quase 100%. Ou seja, se a pessoa não é mais virgem, tomar a vacina não vai fazer nenhum efeito...". A infecção por algum dos tipos de HPV é realmente precoce. Dois anos após o inicio da vida sexual ativa, cerca de 50% das pessoas se infectarem com algum tipo de HPV. Como há mais de 100 subtipos desse vírus, a chance de uma pessoa ter sido infectada por todos eles é praticamente zero. Portanto, e enfaticamente, embora por razões óbvias o ideal é vacinar antes, o início da vida sexual não representa limitação ao uso da vacina nem diminui sua relevância na prevenção. É importante salientar que mesmo em países como EUA, Reino Unido e Austrália, com excelentes programas de prevenção de câncer, o exame papanicolaou isoladamente não foi capaz de eliminar o problema e é por isso que esses países implementaram programas públicos de vacinação contra o HPV. Trata-se de estratégias complementares, não excludentes.

    3. Quanto aos eventos adversos citados, não se comprovou relação causal com a vacina, e sim temporal (ocorreram até algumas semanas após a vacinação). Mas não é possível afirmar que não se trate apenas de coincidência (isso porque a frequência de cada um desses eventos é extremamente baixa). Em relação aos desmaios, este é um fenômeno extremamente comum na adolescência e está relacionado à administração de qualquer medicação ou vacina injetáveis, apresentam reversão rápida, sem qualquer consequência residual."

    Acho ótimo que todas as partes envolvidas nessa questão se manifestem. É o momento.

    cláudia collucci

    É repórter especial da Folha, especializada em saúde. Autora de "Quero ser mãe" e "Por que a gravidez não vem?" e coautora de 'Experimentos e Experimentações'.
    Escreve às terças.

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