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    Cláudia Collucci

    Solidão aumenta morte prematura em idosos

    18/02/2014 10h05

    O sentimento de solidão extrema pode aumentar em 14% as chances de morte prematura em idosos, o dobro do impacto da obesidade, por exemplo.

    A conclusão vem de um estudo da Universidade de Chicago apresentado no último fim de semana em seminário sobre envelhecimento, com foco no papel da resiliência entre os idosos.

    Para quem não está muito familiarizado com esse conceito psicológico que veio da física, resiliência pode ser definida como uma combinação de fatores que propiciam ao ser humano condições para enfrentar e superar problemas e adversidades.

    No estudo, John Cacioppo, professor de psicologia da Universidade de Chicago, e seus colegas mostraram que os bons relacionamentos e uma rede social efetiva ajudam a fortalecer a resiliência dos idosos, auxiliando-os a superar as adversidades e a crescerem a partir situações estressantes.

    Segundo ele, as consequências do sentimento de solidão para a saúde dos idosos são dramáticas. Entre elas estão a dificuldade para dormir, a pressão arterial elevada, a queda da imunidade e a depressão.

    Cacioppo também chama a atenção para a perda da visão e da audição, que podem aumentar ainda mais o isolamento e a deteriorar a qualidade de vida dos idosos. Por isso, uma dica: ao perceber sinais de surdez, por exemplo, em seu parente ou amigo idoso, insista para que ele vá ao médico e use um aparelhinho. Faz toda a diferença.

    Por incrível que pareça, ainda há muita vergonha envolvendo o tema. Pensei nisso ao ler recentemente que a agência oficial de notícias de Cuba adulterou, no Photoshop, uma foto em que Fidel Castro aparecia com o aparelho de surdez, fazendo-o desaparecer.

    Voltemos à solidão. Segundo Cacioppo, uma das formas de evitar esse sentimento é se empenhar em manter contato com os amigos e com os familiares, especialmente aqueles com os quais você se importa e que se importam com você.

    "Aposentar-se e ir morar em um lugar distante, por exemplo, pode não ser uma boa ideia se isso significa se desconectar das pessoas que significam muito para você", alerta o psicólogo.

    Cacioppo diz que, embora algumas pessoas se sintam bem vivendo sozinhas, a maioria gosta de companhia e cresce a partir de situações sociais que lhes deem harmonia e suporte mútuo. Ele lembra que o próprio processo evolutivo encorajou as pessoas a trabalharem juntas para sobreviver.

    É preciso ressaltar, porém, que o sentimento de solidão não está necessariamente relacionado a viver só numa casa ou apartamento, por exemplo.

    Um idoso pode se sentir muito só mesmo vivendo em uma casa com um parceiro ou com os filhos e netos. Se não houver intimidade, carinho e atenção nessas relações, o sentimento de solidão permanece.

    Por outro lado, um idoso que more sozinho, mas que saia de casa, tenha uma rede social, amigos próximos, namorados ou namoradas, ou mesmo familiares que os respeitem, terá mais qualidade de vida do que o primeiro, explica o psicólogo.

    O alerta é importante para os idosos e para quem convive diretamente com eles. Mas serve também para todas idades, já que um dia todos nós nos tornaremos velhos. Uma rede efetiva de amigos, aqueles que estão ao teu lado nas boas e nas piores situações, se forma ao longo de toda a vida. É fundamental alimentá-la sempre.

    cláudia collucci

    É repórter especial da Folha, especializada em saúde. Autora de "Quero ser mãe" e "Por que a gravidez não vem?" e coautora de 'Experimentos e Experimentações'.
    Escreve às terças.

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