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    Cláudia Collucci

    Ao rir do Parkinson, Paulo José ajuda a desmitificar a doença

    25/03/2014 02h50

    No filme "Todas as Mulheres do Mundo" (1966), o galã Paulo José era o paquerador das praias da zona sul do Rio. Hoje, aos 76 anos, o ator que interpreta o vovô Benjamin na novela "Em Família" (Globo) continua admirando as beldades que passam pelo calçadão do Leblon. A diferença é que usa bengala, tem dificuldade na fala e movimentos involuntários. Interpreta a si próprio, um homem idoso convivendo com o Parkinson.

    Assim como ele, o ator norte-americano Michael J. Fox, conhecido pela trilogia "De Volta para o Futuro" no cinema, encara a doença com leveza, sem pieguices. Aos 52 anos e diagnosticado com Parkinson desde 2001, faz piadas sobre as suas limitações físicas no seu programa "O Show de Michael J. Fox" (exibido no Brasil no canal Comedy Central).

    Impossível não se emocionar com algumas cenas, rir de outras e, sobretudo, aprender com a obstinação e com o esforço de ambos em enxergar graça mesmo em ocasiões que parecem desesperadoras.

    Descrita pela primeira vez em 1817, pelo médico inglês James Parkinson, o Parkinson é uma doença que causa tremores, lentidão de movimentos, rigidez muscular, desequilíbrio, além de alterações na fala e na escrita.

    Não é fatal, nem contagiosa. Também não afeta a memória ou a capacidade intelectual da pessoa. Apesar dos avanços científicos, ainda continua incurável. É progressiva (variável em cada paciente) e a sua causa ainda continua desconhecida até hoje.

    Ao expor suas fragilidades para o Brasil e para o mundo, os dois atores ajudam a desmitificar a doença e encorajam aqueles que enfrentam o Parkinson a sair do casulo, a serem felizes mesmo que às vezes a comida caia do garfo antes de chegar à boca ou que as pernas insistam em não obedecer aos comandos do cérebro.

    Sim, ambos têm recursos que possibilitam o que há de melhor em terapias, o que não é o caso de muitos brasileiros que enfrentam a doença.

    João Miguel Júnior/Divulgação/TV Globo
    Paulo José como Benjamin na novela "Em Família"
    Paulo José como Benjamin na novela "Em Família"

    Mas uma lição que Paulo e Michael dão é que é possível encarar as dificuldades para que as coisas tenham a proporção que devam ter. Para nenhum deles o enfrentamento inicial da doença foi fácil. Michael conta que no começo afogou as mágoas na bebida e se afastou da família. "Mas não durou, porque a doença é muito presente. Precisei parar e lidar com a dificuldade", disse em entrevista à revista "Rolling Stones".

    Paulo relata em depoimento à revista "Época" que já teve depressão muitas vezes. "Quando acordo, tenho de fazer uma escolha. Decido sair da cama. Hoje será um dia melhor. Ao me deitar, não penso se o dia foi mesmo melhor. Só penso: 'Amanhã será um outro dia'. Assim, sigo trabalhando e vivendo dia por dia".

    Ele nunca parou de trabalhar. Nos últimos 20 anos, dirigiu dez peças, participou de 19 filmes e 18 programas de TV, entre séries e novelas. Dirigiu mais de 200 comerciais. Em todos esses trabalhos, o Parkinson estava lá. Foi o seu companheiro de palco, de estúdio, de vida.

    cláudia collucci

    É repórter especial da Folha, especializada em saúde. Autora de "Quero ser mãe" e "Por que a gravidez não vem?" e coautora de 'Experimentos e Experimentações'.
    Escreve às terças.

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