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    Cláudia Collucci

    A dengue e a Copa

    29/04/2014 03h00

    No final de novembro de 2013, um artigo do sanitarista Simon Hay na revista britânica "Nature" já alertava que o Brasil poderia se tornar um foco global de transmissão da dengue neste ano, durante a Copa do Mundo.
    Agora, a pouco mais de um mês do início do evento, olhamos apreensivos os números da doença em ascensão.

    Alguns infectologistas dizem que o pico da epidemia acontecerá em meados de maio, com rescaldo em junho, portanto, durante a Copa. Já os biólogos apostam que, com a queda das temperaturas, a tendência será a diminuição dos casos.

    A preocupação é que, além da "exportação" da dengue, haja o risco de torcedores estrangeiros trazerem novas variedades do vírus para dentro do país.

    Mas, mesmo antes da Copa, já temos motivos de sobra para nos preocupar. Nos quatro primeiros meses do ano, o total de casos de dengue já supera o de 2013. Foram 3.050 de janeiro até anteontem, ante 2.617 no ano passado todo.

    Quem está com os sintomas da doença e depende do SUS enfrenta longas filas nas unidades de saúde ainda mais superlotadas. Muitas nem sequer estão fazendo o exame sorológico que atesta a dengue, o que pode mascarar o tamanho da epidemia (oficialmente, ainda não é considerada epidemia).

    Com os profissionais de saúde sobrecarregados, o atendimento pode ser negligenciado. Em tratando de dengue, isso é um perigo.

    Vide o que aconteceu no início do mês com o garoto de seis anos, que morreu de dengue hemorrágica, depois de a mãe ter ido duas vezes a uma AMA e ter recebido o diagnóstico de virose.

    Os agentes de saúde, especialmente os da zona oeste (onde se concentra a maioria dos casos de dengue de São Paulo), também não têm dado conta de percorrer todos os bairros, visitar casas e fazer o trabalho de combate a criadouros do mosquito.

    Quem está na linha de frente do combate diz que a população e o poder público relaxaram. As pessoas continuam com os velhos hábitos que possibilitam a manutenção dos criadouros do mosquito Aedes aegypti, como vasinhos com mais água do que areia ou com borra de café, que não tem evidência nenhuma na prevenção.

    Há também muito criadouro público do mosquito. Lixo em terrenos baldios e em caçambas acumulando água, por exemplo. Enfim, ninguém está fazendo a lição de casa.

    Parece que todos estão à espera de algo milagroso, como a vacina que virá para nos livrar da dengue.

    Mas, a depender dos frágeis resultados divulgados ontem pela farmacêutica Sanofi Aventis, haverá ainda um longo caminho até que se consiga, de fato, uma imunização eficaz, que contemple todos os os subtipos da dengue (se é que isso vai ocorrer).

    Enquanto isso não acontece, vamos cuidar do nosso quintal, minha gente!

    cláudia collucci

    É repórter especial da Folha, especializada em saúde. Autora de "Quero ser mãe" e "Por que a gravidez não vem?" e coautora de 'Experimentos e Experimentações'.
    Escreve às terças.

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