• Colunistas

    Thursday, 02-May-2024 03:34:28 -03
    Cláudia Collucci

    Especialistas temem que Copa traga 'prima' da dengue

    13/05/2014 03h30

    Como se não bastasse serem os mosquitos transmissores da dengue, o Aedes aegypti e e o Aedes albopictus podem transmitir também uma doença que logo poderá fazer parte do nosso cotidiano: a febre chikungunya.

    Chamada de "prima" da dengue, a febre tem sintomas parecidos com a nossa velha conhecida: febre acima de 39 graus, enjoo, vômitos, vermelhidão na pele e dores musculares. Mas uma das características que a diferencia da dengue é a dor muito forte nas articulações (chega a ser confundida com artrite).

    A "boa" notícia é que a febre não tem a versão hemorrágica e seu índice de letalidade é baixo. Mas as dores nas articulações, principalmente nas mãos e nos pés, podem perdurar por meses ou até anos.

    Como na dengue, ainda não há medicamentos para combater a chikungunya. São usados anti-inflamatórios, analgésicos e antitérmicos para controlar sintomas. A prevenção também é a mesma: evitar água parada onde os mosquitos se reproduzem

    A doença é transmitida por um vírus (chikungunya) comum na África e na Ásia e que avançou rapidamente pelo leste do Caribe. Desde então, já se espalhou para sete outros países.

    Para os epidemiologistas, a chegada do chikungunya ao Brasil é quase que inevitável porque temos Aedes de sobra e eles são vetores super competentes na transmissão do vírus.

    Foi o que constatou um trabalho coordenado pelo parasitologista Ricardo Lourenço, do Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), e pesquisadores do Instituto Pasteur e da Universidade Pierre et Marie Curie, na França, publicado no site do "Journal of Virology".

    Eles avaliaram a suscetibilidade das duas espécies de mosquitos à infecção pelo chikungunya em vários pontos das Américas. No Brasil, foram analisados mosquitos em dez cidades, em todas as regiões do país. Os resultados do Rio de Janeiro foram os mais preocupantes.

    Segundo o pesquisador, quase 90% dos mosquitos eram capazes de transmitir a doença sete dias após infectados, o que significa uma taxa de transmissão muito alta. Só para efeito de comparação, a transmissão da dengue leva entre dez e 14 dias.

    A preocupação dos especialistas é que a doença chegue no país juntamente com milhares de turistas que virão assistir à Copa do Mundo. Mesmo que não encontre um cenário favorável agora (com o frio, a circulação dos mosquitos é menor), a tensão deve continuar por causa do grande movimento de idas e vindas de turistas.

    Não sabemos ainda qual é o real risco de o vírus se espalhar pelo país (o epidemiologista da USP Eduardo Massad está fazendo esse cálculo). Desde 2011, há alertas nesse sentido. Mas, por enquanto, o Brasil só registrou casos importados de chikungunya, ou seja, pessoas que foram infectadas fora do país.

    O surgimento de casos em algumas ilhas do Caribe, e também na Guiana Francesa, que faz fronteira com o Amapá, tem deixado os pesquisadores brasileiros em alerta.

    Pelo menos 30% dos casos da chikungunya são assintomáticos, o que pode dificultar o bloqueio dos casos vindos de outros países e facilitar sua introdução por aqui.

    Chikungunya significa "aqueles que se dobram" e tem origem no Swahili, um dos idiomas oficiais da Tanzânia, onde foi documentada a primeira epidemia da doença, em 1953. Refere-se à aparência curvada dos pacientes, motivada pelas intensas dores articulares e musculares, característica da doença. De uma "prima" dessas, quero distância...

    cláudia collucci

    É repórter especial da Folha, especializada em saúde. Autora de "Quero ser mãe" e "Por que a gravidez não vem?" e coautora de 'Experimentos e Experimentações'.
    Escreve às terças.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024