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    Cláudia Collucci

    Hospitais com 'janelões' são arma contra superbactérias

    27/05/2014 02h00

    Enquanto não surgem antibióticos mais eficazes, hospitais precisam ser redesenhados para evitar a propagação de superbactérias resistentes.

    Isso significaria voltar ao passado, com distâncias maiores entre os leitos, menores taxas de ocupação e quartos com grandes janelas que se abrem.

    É o que defenderam médicos e pesquisadores reunidos semana passada na Royal Society de Londres, a sociedade científica mais antiga do mundo. "Nós estamos falando de retorno às enfermarias de hospitais como tínhamos cem anos atrás", disse ao jornal "The Guardian" o microbiologista Kevin Kerr, professor da Hull York Medical School.

    Para médicos e pesquisadores, a resistência bacteriana está crescendo numa velocidade tamanha que num futuro próximo as pessoas poderão morrer de infecções de rotina porque os antibióticos existentes não farão mais efeito.

    Eles defendem que os governos encorajem a indústria farmacêutica a desenvolver novas gerações de antibióticos, mas, enquanto isso não ocorre, dizem que medidas de curto prazo, como os quartos com janelões, já ajudariam.

    RESISTÊNCIA

    A resistência a antibióticos surge como consequência dos processos de seleção natural. Numa população de bactérias, algumas são mais resistentes a drogas do que outras. Ocasionalmente, essas estirpes resistentes sobrevivem, se multiplicam e se tornam mais resistentes a antibióticos. É assim que superbactérias, como a KPC, evoluíram.

    Os pesquisadores estimam que 5.000 morram todos os anos no Reino Unido em razão de cepas de bactérias que desenvolveram resistência aos antibióticos.

    No futuro, esse aumento contínuo na resistência pode ter repercussões ainda mais amplas. Cirurgia e tratamento de doenças como a leucemia podem se tornar difíceis de serem realizados porque não haveria meios para matar infecções aleatórios em pacientes.

    No momento, são poucos os novos antibióticos em desenvolvimento. A questão é que essas drogas não oferecem bons retornos para os acionistas de empresas farmacêuticas. Você normalmente só toma o remédio durante uma semana, dez dias, quando está sofrendo de uma condição aguda.

    Já os medicamentos para doenças crônicas, como a diabetes ou a pressão arterial elevada, são garantias de mais lucros porque os clientes são para o resto da vida.

    PAINEL

    Para os pesquisadores, a urgência da necessidade de convencer as empresas farmacêuticas a desenvolver novos antibióticos deveria ser enfrentada pelo equivalente médico do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima.

    Entre as medidas discutidas que poderiam estimular as farmacêuticas a investirem em novos antibióticos estão incentivos fiscais ou alongamento do período para o qual um novo medicamento está protegido por patente.

    Outra abordagem interessante foi apresentada pelo professor geneticista molecular Chris Thomas, da Universidade de Birmingham. Trata-se de uma técnica ainda estudo que usa determinados vírus para atacar bactérias específicas. A pessoa receberia uma espécie injeção de vírus como tratamento.

    Enfim, as propostas são muitas, mas a maioria delas é de difícil aplicação imediata. Existe uma medida muito barata, acessível e de eficiência pra lá de comprovada que reduziria muito os casos de infecção hospitalar: a lavagem correta das mãos. Qual o problema dela? É tão simples que as pessoas esquecem.

    cláudia collucci

    É repórter especial da Folha, especializada em saúde. Autora de "Quero ser mãe" e "Por que a gravidez não vem?" e coautora de 'Experimentos e Experimentações'.
    Escreve às terças.

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