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    Cláudia Collucci

    'Prima da dengue' já chegou para a Copa

    09/06/2014 18h50

    E não é que a prima da dengue veio mesmo para a Copa do Mundo? Nesta segunda (9), a Secretaria de Estado da Saúde confirmou seis casos importados de infecção pelo vírus Chikungunya. Os pacientes são soldados do Exército brasileiro que retornaram de uma missão de paz no Haiti no último dia 5 de junho.

    A combinação de fatores não poderia ser pior: os soldados passaram pelo Hospital Militar de São Paulo, na capital, e pelo Batalhão de Logística do Exército, em Campinas. Sim, Campinas, a cidade paulista que mais concentra casos de dengue neste ano. Já são três mortes confirmadas, com mais de 30 mil casos confirmados da doença e famílias inteiras contaminadas.

    O vírus Chikungunya é transmitido pelo mesmo mosquito da dengue, o Aedes aegypti. Ou seja, se algum mosquito picou esses soldados infectados em São Paulo ou em Campinas, onde há uma alta taxa de vetores (mosquitos), é bom começarmos a colocar as barbas de molho.

    Uma pesquisa recente da Fiocruz e do Instituto Pasteur mostrou que o Aedes é um vetor super competente na transmissão do vírus Chikungunya. Quase 90% dos mosquitos testados foram capazes de transmitir a doença sete dias após infectados.

    A febre Chinkungunya, como é conhecida, apresenta sinais e sintomas parecidos aos da dengue, como febre alta, dores no corpo e no fundo dos olhos, manchas vermelhas pelo corpo e dores nas articulações. Aliás, são exatamente essas dores que a diferenciam da prima dengue. Elas são muito mais fortes, tanto que chegam a ser confundidas com artrite. E podem permanecer por meses ou até anos.

    O problema é que, assim como a dengue, muitos dos casos são assintomáticos, o que pode dificultar as ações de bloqueio. Não sabemos ainda o potencial risco de o vírus se espalhar pelo país. Por enquanto, pelo menos oficialmente, não temos casos autóctones, ou seja, quando a transmissão se deu em território nacional.

    Mas, para os especialistas, é só uma questão de tempo. E os governos estão colaborando para esse cenário nada bom. Vide o que está acontecendo em Campinas. Falhas de prevenção à proliferação do mosquito, falta de pessoal e problemas estruturais levaram a cidade a viver a pior epidemia de dengue da sua história. Até equipamentos básicos, como máscaras faciais, filtros e botas de PVC só foram repostos recentemente, conforme reportagem publicada nesta segunda (9) na Folha. "A equipe entrou em colapso de exaustão", desabafou uma funcionária de Campinas.

    A Secretaria de Saúde do Estado diz que já foram feitas ações de contenção e nebulização por onde os soldados passaram para evitar que o Chikungunya leva a melhor. Agora é esperar para ver quem foi mais rápido: o mosquito ou os já exaustos agentes da saúde?

    cláudia collucci

    É repórter especial da Folha, especializada em saúde. Autora de "Quero ser mãe" e "Por que a gravidez não vem?" e coautora de 'Experimentos e Experimentações'.
    Escreve às terças.

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