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    Cláudia Collucci

    Agora vamos falar sério sobre saúde?

    07/10/2014 03h00

    Senhores candidatos à Presidência, neste segundo turno das eleições, vamos falar sério? Vamos sair do discurso do marketing eleitoral e encarar de frente o principal problema do país, a saúde? Vamos sair do velho blá-blá-blá e propor seriamente algumas metas sanitárias e assistenciais?

    O que vocês têm a dizer sobre o pífio atendimento dado aos pacientes com câncer que dependem do SUS e que muitas vezes morrem sem sequer ter um diagnóstico fechado? Porque têm que esperar meses para conseguir consulta com especialista, depois mais tanto de tempo para fazer os exames e depois outro tanto para obter o tratamento necessário?

    O que vocês pretendem fazer para evitar que 60% dos cânceres sejam diagnosticados tardiamente no país?

    E sobre o fato de Brasil ser o país com maior índice de cesáreas do mundo (52%)? O número ultrapassa os 83% nos hospitais particulares, que atendem majoritariamente pacientes com planos de saúde. Enquanto o índice recomendado pela Organização Mundial da Saúde é de 15%, ele chega a 90% em algumas maternidades renomadas das principais capitais do país, como São Paulo.

    Alguma ideia de como reduzir isso?

    E a descriminalização do aborto, tema bicho-papão dos debates eleitorais? O que vocês propõem para evitar que mais mortes como as de Jandira Magdalena dos Santos, de 27 anos, no Rio de Janeiro, e Elizângela Barbosa, de 32 anos, em Niterói, sejam evitadas?

    E sobre o consumo do álcool e outras drogas? Um estudo da Fiocruz mostrou que, só nas capitais, 370 mil pessoas são usuárias de crack. Esse número corresponde a 0,8% da população das capitais do país e a 35% dos consumidores de drogas ilícitas nessas cidades. Além disso, 14% do total são crianças e adolescentes, o que equivale a mais de 50 mil usuários.

    Passaria horas citando outros exemplos, mas vamos direto ao ponto central que já abordei na coluna da semana passada: o subfinanciamento. E também a distorção do financiamento da saúde no país, onde os gastos privados são maiores que os públicos.

    Nos países desenvolvidos, com sistemas universais de saúde, mais de 70% dos gastos do setor são públicos. No Brasil, apenas 44% vêm de recursos públicos.

    Mas, como bem lembram os professores Mario Scheffer (USP) e Lygia Bahia (UFRJ), tão importante quanto revelarem a política de financiamento, seria a declaração dos candidatos sobre como possíveis novos recursos passarão a circular no sistema de saúde, ou seja, como serão utilizados.

    "Nenhum candidato se propôs a refazer as contas da saúde, a começar pela renúncia fiscal no cálculo de imposto de renda de pessoa física e jurídica, empréstimos do BNDES, subsídios e isenções tributárias a planos de saúde; desonerações da indústria farmacêutica e dos hospitais filantrópicos; enfim, os diversos incentivos econômicos que favorecem a expansão do setor privado, sem nenhuma contrapartida ao sistema universal." E aí, vamos falar sério?

    cláudia collucci

    É repórter especial da Folha, especializada em saúde. Autora de "Quero ser mãe" e "Por que a gravidez não vem?" e coautora de 'Experimentos e Experimentações'.
    Escreve às terças.

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