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    Cláudia Collucci

    Maus hábitos colocam o país entre os líderes em obesidade

    09/12/2014 02h03

    Vice-campeão mundial em cirurgia bariátrica, quinto lugar no ranking mundial de obesidade. Sim, esses títulos nada honrosos são nossos. E deveriam preocupar a todos, não apenas os 60 milhões de brasileiros que estão acima do peso.

    Antes considerados problemas de países ricos, o sobrepeso e a obesidade estão em alta nos países de baixa e média rendas, em especial nos grandes centros urbanos. No mundo todo, já são responsáveis por mais mortes do que a desnutrição.

    A genética contribui com menos de 10% dos casos de obesidade. E as doenças endócrinas, como hipotireoidismo e problemas no hipotálamo, representam menos de 1% dos casos de excesso de peso. Ou seja, a vasta maioria dos casos está associada ao consumo de alimentos altamente calóricos, ricos em gordura, sal e açúcar, e ao sedentarismo.

    O consumo de frutas e hortaliças está sendo deixado de lado por uma boa parte dos brasileiros, segundo dados do Ministério da Saúde. Apenas 22,7% da população ingerem a porção diária recomendada pela OMS (Organização Mundial da Saúde), de cinco ou mais porções ao dia.

    Ao mesmo tempo, é excessivo o consumo de gordura saturada: 31,5% da população não dispensam a carne gordurosa e mais da metade (53,8%) consome leite integral regularmente.

    Os refrigerantes também têm consumidores fieis. Um quarto (26%) dos brasileiros toma esse tipo de bebida ao menos cinco vezes por semana. E isso, acreditem, já começa no berço.

    O documentário sobre obesidade infantil "Muito Além do Peso" mostra que já existe no Brasil uma geração de crianças condenadas a morrer cedo ou a ter problemas de saúde por causa dos maus hábitos alimentares.

    Segundo o filme, 56% dos bebês brasileiros com menos de um ano de idade tomam refrigerantes. Com essa informação, não é de se admirar que um terço das nossas crianças esteja acima do peso ou obesa.

    O Ministério da Saúde tem algumas ações importantes para reverter esse quadro, como o lançamento recente do novo guia alimentar brasileiro, que prioriza o consumo de alimentos frescos em detrimento dos processados. Também tem feito um pacto com a indústria alimentícia para a redução do sódio dos alimentos industrializados.

    Mas a verdade é que a obesidade ainda não entrou pra valer na agenda política do país. Receio do enfrentamento de interesses da indústria alimentícia ou apenas desinteresse total pela saúde da população e pelas finanças públicas?

    Só para vocês terem uma ideia, o tratamento da obesidade e de doenças relacionadas a ela gera um custo de R$ 488 milhões por ano ao governo brasileiro.

    O fato é que, independentemente de políticas públicas, temos razões de sobra para buscar mudanças pessoais que nos levem a uma vida mais saudável. Isso se o nosso objetivo for viver e envelhecer com qualidade.

    Pesquisa publicada na última quinta-feira (4) na revista médica "The Lancet" mostrou que a obesidade está roubando oito anos da expectativa de vida. Se levarmos conta os anos de vida sem doença, o rombo é ainda maior: 19 anos! Nunca é tarde para começar a comer melhor, vencer a preguiça e praticar atividades físicas.

    cláudia collucci

    É repórter especial da Folha, especializada em saúde. Autora de "Quero ser mãe" e "Por que a gravidez não vem?" e coautora de 'Experimentos e Experimentações'.
    Escreve às terças.

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