• Colunistas

    Wednesday, 08-May-2024 06:43:19 -03
    Cláudia Collucci - Cláudia Collucci, Gabriel Alves

    Mercadorias que causam doenças

    23/12/2014 02h03

    Um cenário bem preocupante vem se desenhando no campo da saúde pública e é retratado com clareza em relatório publicado na revista científica "Lancet": como a indústria, com seu poderio financeiro, estaria minando as políticas de saúde pública com relação ao consumo de tabaco, álcool e alimentos processados.

    O artigo, chamado "Profits and pandemics: prevention of harmful effects of tobacco, alcohol, and ultra-processed food and drink industries", analisa os efeitos sobre as doenças crônicas de produtos denominados de "unhealthy commodities", ou mercadorias que causam doenças.

    O estudo analisa suas vendas no mundo mostrando um enorme crescimento nos países de baixa e média rendas e examina as estratégias utilizadas pelas três indústrias transnacionais.

    O trabalho concluiu que as ações são similares no sentido de minar iniciativas que poderiam reduzir o crescimento do consumo de seus produtos pela população.

    Entre as estratégias estaria a parceria com pesquisadores, com a produção de artigos científicos com viés para conclusões favoráveis, ou menos desfavoráveis ao consumo dessas drogas.

    Outra abordagem da indústria seria a cooptação de gestores e profissionais de saúde, que poderiam influenciar a opinião pública e a formação de lobby com políticos e governantes, para impedir sanções ou mesmo afrouxar a regulamentação vigente.

    Por último, há a ação direta ao consumidor: além de desencorajar a taxação desses produtos, há associação da marca a campanhas não relacionadas ao produto principal, como em campanhas contra a violência à mulher ou patrocinando eventos esportivos.

    Os autores também avaliaram a eficácia de três alternativas para a prevenção dos efeitos danosos dessas três indústrias para a saúde: a autorregulamentação, parcerias público-privadas e regulação pública. A conclusão principal é que apenas a regulação pública seria eficaz.

    Também dizem que a indústria não deveria ter nenhum papel na formação nacional ou internacional de políticas de combate a doenças crônicas. A obesidade e as doenças cardiovasculares, o câncer, o alcoolismo, os acidentes de trânsito são alguns dos males diretamente associados essas três indústrias. É preciso que a gente se lembre disso sempre. Mesmo que as propagandas mostrem um mundo de pessoas saudáveis e felizes.

    Colaborou GABRIEL ALVES

    cláudia collucci

    É repórter especial da Folha, especializada em saúde. Autora de "Quero ser mãe" e "Por que a gravidez não vem?" e coautora de 'Experimentos e Experimentações'.
    Escreve às terças.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024