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    Cláudia Collucci

    Médico cubano: não serviu, troca por outro

    17/03/2015 02h00

    "O governo federal tem a obrigação de assegurar que, em território brasileiro, os médicos cubanos sejam tratados de forma digna, e não apenas como peças descartáveis de uma máquina de financiamento da tirania castrista".

    A frase foi extraída do editorial da Folha desta segunda (16), que trata da pressão que o governo de Cuba tem feito para que os médicos cubanos "despachem" seus filhos e cônjuges de volta para a ilha. Se não aceitarem, serão substituídos por outros.

    Quase dois anos após o início do programa Mais Médicos, 80% da força de trabalho (14 mil profissionais) veio da ilha de Fidel Castro. Ou seja, o programa só está de pé graças a esses profissionais.

    Nem vou entrar aqui no mérito da discussão de que o programa não é a solução para o problema da saúde brasileira e que não é o mais sustentável a longo prazo. Isso tudo já foi exaustivamente discutido nos últimos anos.

    Vou me ater apenas ao fato de que a presença dos doutores cubanos é mais do que aplaudida pelos moradores dos municípios atendidos, segundo várias pesquisas de opinião.

    No final do ano passado, o "Jornal Nacional" visitou o município de Cocal, no interior do Piauí, que tem seis cubanos participantes do programa Mais Médicos.

    Acompanhou o médico Osmayki percorrendo nove comunidades rurais do município. "Nesta população encontramos muitas pessoas que estão com hipertensão, uma pressão alta, que eles não tinham conhecimento", contou.

    Dona Francisca Messias da Silva é paciente do doutor cubano. "Desde o começo que ele passou o remédio para mim que eu tenho sentido melhora", afirmou a lavradora.
    A reportagem também chamou atenção para a falta de filas nos postos de saúde do município.

    "Hoje a gente vem sabendo que vai encontrar um médico e que vai ser atendido realmente, porque antes quando a gente vinha para o posto de saúde, chegava cedo e de repente nem o médico encontrava", relatou outra moradora.

    A satisfação, porém, é bem pontual e restrita à presença dos médicos. O resto é aquele caos de sempre. Não é possível fazer nenhum tipo de exame no município. O aparelho de raio-X está desativado. Uma das salas do centro cirúrgico é usada como depósito. E por aí vai.

    Portanto, não dá para entender esse silêncio por parte do governo federal e dos municípios que receberam os médicos cubanos frente a essa atitude absurda e desumana do governo de Cuba.

    OK, os médicos cubanos já estão acostumados e aceitam trabalhar em condições precárias. Eles sabem que são hoje o maior produto de exportação da ilha.

    Ao aceitar que Cuba pressione seus profissionais em pleno território brasileiro e fazer de conta que não é com ele, o governo sinaliza que também enxerga esses profissionais como mercadorias. Não serviu, troca por outro.

    cláudia collucci

    É repórter especial da Folha, especializada em saúde. Autora de "Quero ser mãe" e "Por que a gravidez não vem?" e coautora de 'Experimentos e Experimentações'.
    Escreve às terças.

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