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    Cláudia Collucci

    Os Hucks e o SUS

    26/05/2015 02h00

    Dois fatos me chamaram a atenção no acidente aéreo envolvendo a família Huck: o ódio destilado na internet em relação ao casal de apresentadores globais e uma espécie de "comemoração" pelo fato de terem sido atendidos, primeiramente, no SUS.

    Não vou perder tempo falando do ódio porque o melhor a fazer com a pessoa que deseja a desgraça do outro é ignorá-la. Quero me ater à "polêmica" gerada pelo atendimento público prestado à família.

    Nada, absolutamente nada, contra o fato de Angélica, Luciano e os filhos terem usado o SUS (e muito menos as babás e os pilotos). Todo e qualquer cidadão brasileiro tem direito ao SUS, está na Constituição.

    Se outras celebridades, ricos e mesmo a classe média utilizassem o sistema público de saúde, como fazem os canadenses e os ingleses, por exemplo, certamente ele estaria bem melhor porque haveria mais pressão social para elevar a qualidade e o financiamento.

    Será que um dia o brasileiro vai acordar e perceber que poderia estar recebendo um tratamento de qualidade sem pagar um tostão por isso?

    A questão nesse caso é outra. O coordenador do Samu de Campo Grande acusa a Santa Casa de ter negado atendimento a seis pacientes enquanto a família Huck era atendida com privacidade na UTI cardíaca.

    "Fiquei muito decepcionado de ver que de repente a Santa Casa fecha uma UTI cardíaca para receber o Luciano Huck e Angélica. Estamos com pacientes entubados e ventilados a mão há mais de 12 horas esperando atendimento. Por que que eles passaram na frente dos outros?", indagou Eduardo Cury.

    A Santa Casa publicou nota de esclarecimento garantindo que em momento algum negou ou recusou atendimento a qualquer pessoa que tenha procurado o hospital.

    Não admiraria nem um pouco se isso for confirmado, já que a prática é corriqueira. Mesmo entre nós, reles mortais.

    Dentro do SUS, especialmente nos hospitais de ponta, muitos atendimentos não acontecem de acordo com as regras do sistema (referência e contrarreferência), mas, sim, por QI (quem indica).

    Isso já foi exaustivamente denunciado na imprensa, tanto que não causa mais indignação. Pelo contrário. O "salve-se quem puder" parece estar institucionalizado.

    cláudia collucci

    É repórter especial da Folha, especializada em saúde. Autora de "Quero ser mãe" e "Por que a gravidez não vem?" e coautora de 'Experimentos e Experimentações'.
    Escreve às terças.

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