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    Cláudia Collucci

    A morte do jovem que aplicou hidrogel no pênis

    26/07/2015 10h00

    Um jovem de 18 anos morreu na noite deste sábado (25) em Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo) após injetar hidrogel no pênis, segundo a polícia.

    Ele foi levado à unidade de emergência do Hospital das Clínicas por volta das 16h30 e morreu quatro horas depois de insuficiência respiratória. A polícia investiga a morte.

    O caso suscita muitos questionamentos. O primeiro deles são os potenciais graves riscos do uso inadvertido desse produto, como já ficou demonstrado no episódio envolvendo a modelo Andressa Urach e da morte de uma mulher em Goiânia (GO).

    O hidrogel é formado 98% por água e absorvido pelo corpo após cerca de dois anos. Em tese, quando usado por médicos e em doses recomendadas, é seguro, mas frequentemente temos visto várias complicações associadas ao seu uso. Entre elas, alergia, rejeição, infecção e necrose dos tecidos.

    O perigo mais imediato é o produto ser injetado em um vaso sanguíneo, que pode provocar uma embolia pulmonar e morte, o que pode ter acontecido com o jovem de Ribeirão.

    O hidrogel também pode se deslocar pelo corpo. A pessoa injeta no bumbum, por exemplo, e ele vai parar na coxa. Enfim, os riscos são grandes. Tanto que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) proibiu a importação e a venda do produto no Brasil.

    Contudo, não foi vetado o uso e a aplicação do hidrogel por clínicas e profissionais médicos que tinham o produto em estoque. A questão, porém, é a de sempre: quem está fiscalizando isso? E as vendas pela internet?

    Outra consideração nesse caso específico é a obsessão masculina pelo aumento do pênis, sempre motivo de muita piada e de pouca discussão séria.

    Basta uma rápida pesquisa no Google para observar as promessas mirabolantes que existem nesse sentido, incluindo a aplicação de hidrogel e de outras substâncias no pênis. Sem falar das geringonças vendidas em sex shops.

    A vasta maioria desses procedimentos não tem nenhuma evidência científica de que funcione e, o mais importante, não tem garantia alguma de segurança.

    Imagino que a pressão social seja grande para os homens de pau pequeno. Como já brincou o pessoal do humorístico "Porta dos Fundos", eles trocariam qualquer coisa por dois centímetros a mais de pau. Mas será que vale trocar até a vida por isso?

    cláudia collucci

    É repórter especial da Folha, especializada em saúde. Autora de "Quero ser mãe" e "Por que a gravidez não vem?" e coautora de 'Experimentos e Experimentações'.
    Escreve às terças.

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