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    Cláudia Collucci

    Instituto de saúde britânico recomenda parto domiciliar

    06/10/2015 02h00

    Uma das instituições mais bem conceituadas do mundo, o Instituto Nacional de Excelência Clínica (Nice), entidade consultiva do serviço de saúde do Reino Unido, editou recentemente novas diretrizes sobre partos e, pela primeira vez, passou a recomendar o parto domiciliar a gestantes de baixo risco e que já tiveram filho(s) anteriormente.

    Usualmente associado a mais riscos para as mães e os bebês, o parto em casa se mostrou mais seguro do que o hospitalar para esse grupo de mulheres, segundo o Nice. A decisão foi embasada em um grande estudo chamado "Birthplace", que analisou dados de mais de 64 mil mulheres que deram à luz entre 2008 e 2010.

    Os resultados iniciais foram publicados em 2011 no "BMJ" (British Medical Journal). Eles indicavam que entre as gestantes de baixo risco que decidiram ter o segundo filho (ou terceiro, quarto...) em casa houve menos intervenções (como cesáreas e nascimento a fórceps) e complicações (como infecções e hemorragias) do que no grupo que deu à luz em hospitais. Não houve diferença em relação à saúde dos bebês.

    Já entre as mães de primeira viagem, os resultados do estudo britânico foram diferentes. Os bebês tiveram um risco estatisticamente significante de experimentar complicações, como falta de oxigenação (embora o risco absoluto de acontecer alguma coisa errada tenha sido muito pequeno). Para quem não é familiarizado, risco absoluto é a ocorrência de um fenômeno em uma determinada população.

    Os resultados são similares a um outro estudo canadense mais antigo, feito entre 2000 e 2004, que comparou 8.000 nascimentos em casa com partos realizados em hospitais.

    Para Neel Shah, professor de ginecologia e obstetrícia da Harvard Medical School, que escreveu artigo na revista científica "New England Journal of Medicine" sobre as novas diretrizes do Nice, elas representam uma "mudança de paradigma" e enfatizam os perigos do excesso de intervenções no parto hospitalar.

    As conclusões, porém, não representam um consenso na comunidade médica. O Colégio Americano de Ginecologistas e Obstetras, por exemplo, acredita que o parto hospitalar ou em uma casa de parto ligada a um hospital sejam os lugares mais seguros para o bebê nascer. No Brasil, as associações de obstetrícia compartilham opiniões semelhantes.

    Mas, diante da nova diretriz do Nice, Jeffrey Ecker, coordenador de práticas obstétricas do colégio americano e também professor em Harvard, defende que os EUA adotem algumas das recomendações do instituto britânico, como o uso mais racional das tecnologias durante o parto e contar mais com a ajuda das parteiras em gestações de baixo risco.

    No Reino Unido, as parteiras são funcionárias do serviço nacional de saúde e trabalham juntas com os obstetras, trocam informações sobre a saúde e o cuidado da gestante. Se surgir alguma intercorrência durante um parto domiciliar e a mãe precisar ser transferida para um hospital, isso ocorre de uma forma natural, sem as rivalidades a que a gente costuma assistir no Brasil entre médicos e doulas, por exemplo.

    No momento em que o país discute alternativas para enfrentar a epidemia de cesarianas, não seria o caso de também olhar com carinho para as recomendações britânicas?

    cláudia collucci

    É repórter especial da Folha, especializada em saúde. Autora de "Quero ser mãe" e "Por que a gravidez não vem?" e coautora de 'Experimentos e Experimentações'.
    Escreve às terças.

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