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    Cláudia Collucci

    Estudos sobre zika avançam, mas não há 'prova definitiva' de nada ainda

    08/03/2016 02h02

    Aos poucos e com a colaboração de pesquisadores internacionais, as primeiras evidências sobre a associação do vírus da zika e dos casos de microcefalia começam a surgir.

    Dois estudos publicados nos últimos dias são bons exemplos. O primeiro demonstrou que o vírus da zika ataca e destrói as células cerebrais humanas em desenvolvimento.

    Os pesquisadores da Universidade Johns Hopkins utilizaram para o experimento células-tronco humanas cultivadas no laboratório e observaram que o zika infecta de maneira seletiva as células que forma o córtex cerebral, impedindo-as de se multiplicar normalmente para formar novas células, o que provoca a sua destruição. Nessa mesma linha, outro estudo da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e do Instituto D'Or também demonstrou que o vírus da zika ataca neurônios em estágio de desenvolvimento.

    Como disse o neurocientista Hongjun Song, um dos líderes do primeiro estudo, "este é o primeiro passo e há muito mais que precisa ser feito". Mas parece que há muita gente por aí mais realista que o rei. Alguns sites e blogs chegaram a afirmar que "essa era a "prova científica definitiva" que faltava para que a relação entre o zika e a microcefalia fosse estabelecida.

    Nada como fazer um jornalismo bem-feito para demonstrar que as coisas não são bem assim. Em relação ao estudo brasileiro, reportagem do amigo Reinaldo José Lopes mostrou que o trabalho ainda não convenceu a todos por dois motivos principais: não houve comparação entre os efeitos do vírus africano e o que está circulando no Brasil; e teria sido interessante comparar o efeito do zika com o de um vírus que normalmente não afetaria o sistema nervoso, como a da febre amarela. Por que? Numa dose alta, qualquer vírus pode matar células precursoras neurais.

    Em tempos de tanto Fla-Flu, fazer a lição de casa de todo jornalista, como questionar sobre a falta de estudos consistentes ou de notificações confiáveis sobre zika, virou mote para ataques pessoais. Nas redes sociais, já fui chamada de "surtada" por isso.

    Estou acompanhando com atenção cada estudo publicado sobre zika. E vibro com aqueles bem-feitos, como o publicado no sábado pelos pesquisadores da Fiocruz e da Universidade da Califórnia, que demonstrou que o vírus da zika pode atacar o feto em qualquer estágio da gestação.

    É como se as primeiras peças do complicado quebra-cabeça chamado zika começassem a ser encaixadas. Mas, insisto, falta muito chão para que o desenho todo esteja definido.

    Doenças transmitidas pelo Aedes aegypti

    cláudia collucci

    É repórter especial da Folha, especializada em saúde. Autora de "Quero ser mãe" e "Por que a gravidez não vem?" e coautora de 'Experimentos e Experimentações'.
    Escreve às terças.

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