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    Cláudia Collucci

    Classe média se surpreende com o "SUS que funciona"

    12/04/2016 02h13

    Na manhã desta segunda (11), Gloriete, 62, utilizou pela primeira vez o SUS. Ela tem um plano de saúde, mas decidiu procurar a UBS Vila Alpina, na Vila Prudente (São Paulo) para ser vacinada contra a gripe.

    A filha, que já havia esperado três horas na fila de uma clínica privada de imunização e pago R$ 120 pela vacina, comentou: "Se prepara porque a espera vai ser longa."

    Para a surpresa de Gloriete, não foi. Ela levou menos de uma hora entre sair do carro, entrar na clínica, receber uma senha (havia cem pessoas na sua frente), ser vacinada e voltar para o seu carro.

    Entusiasmada, ela conta que o serviço estava muito bem organizado, com uma fila exclusiva para gestantes e crianças e outra para idosos.

    "Entrávamos em grupos de cinco pessoas, sem nenhuma confusão. No final, a atendente até me convidou para fazer a carteirinha do SUS e voltar para receber outras vacinas."

    O relato de Gloriete contrasta com o que se viu em outras unidades da cidade no mesmo dia, onde houve longas filas, confusão e bate-boca. Na própria UBS Vila Alpina, no período da tarde, a realidade já era outra, com aumento da demanda.

    Sorte ou não, o fato é que Gloriete saiu feliz da sua primeira experiência de usuária do SUS. Não é a primeira vez que presencio a surpresa de pessoas da classe média quando se deparam com o "SUS que funciona" (ainda que pontualmente). Cada vez que isso acontece, recupero, por alguns instantes que seja, a minha esperança de que um dia nós, brasileiros, vamos acordar e reivindicar o SUS que está na Constituição de 1988, um sistema integral, universal e gratuito.

    Em 2015, quase 500 mil pessoas ficaram desempregadas no país e, portanto, perderam seus planos de saúde empresarias. Parte dessas pessoas já deve ter procurado um plano de saúde individual e percebido que essa modalidade praticamente não existe mais. O que restam são os chamados planos coletivos, que não têm o aumento anual regulamentado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e fazem reajustes muito acima da inflação. Alguns, os chamados "falsos coletivos" são verdadeiras ciladas.

    Muitos desempregados "classe média", porém, passarão a utilizar o SUS. Isso terá um impacto significativo no sistema cronicamente subfinanciado, mas, ao mesmo tempo, talvez aumente a pressão por melhorias. Sem uma forte pressão popular, não há saída para o SUS.

    cláudia collucci

    É repórter especial da Folha, especializada em saúde. Autora de "Quero ser mãe" e "Por que a gravidez não vem?" e coautora de 'Experimentos e Experimentações'.
    Escreve às terças.

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