A barbárie em Castelo do Piauí (PI) completa um ano nesta sexta. Em 27 de maio de 2015, quatro adolescentes foram vítimas de um estupro coletivo e jogadas de um penhasco de mais de dez metros. Uma delas morreu. Quatro adolescentes e um adulto foram condenados pelo crime.
Na sexta passada (20), outra cidade do Piauí, Bom Jesus (644 km da capital), de 22 mil habitantes, protagonizou barbárie semelhante: uma garota de 17 anos foi vítima de um estupro coletivo. Um homem de 18 anos e quatro adolescentes são acusados do crime.
A garota foi encontrada ferida, amarrada e amordaçada com a calcinha (mesmo 'modus operandi' do crime de um ano atrás) em uma obra abandonada. Segundo a polícia, a menina e os cinco suspeitos do crime se conheciam e estavam bebendo juntos. A suspeita é que alguma substância tenha sido colocada na bebida da jovem. Ela relata ter passado mal e desmaiado, quando então foi estuprada.
No Rio, a Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) investiga um vídeo divulgado pela rede social Twitter, que mostra uma adolescente nua, dopada, depois de supostamente ter sido abusada sexualmente por cerca de 30 homens.
Não vale a pena seguir com os detalhes desses crimes sórdidos. Eles são um retrato do quanto ainda estamos distantes de fazer valer os direitos humanos das mulheres, do quanto a sociedade ainda legitima, naturaliza e justifica a violência de gênero. Sobre o crime recente em Bom Jesus, por exemplo, já houve comentários do tipo "por que bebeu? por que estava sozinha em companhia de cinco rapazes?".
Sim, essas barbáries reforçam o sexismo, o machismo e o quanto a nossa sociedade ainda precisa avançar no enfrentamento a todo tipo de violência contra a mulher. Essa pauta não deveria ser apenas, ou prioritariamente, do movimento feminista. É uma pauta de homens e mulheres engajados na construção de relações sociais mais justas e igualitárias.
É repórter especial da Folha, especializada em saúde. Autora de "Quero ser mãe" e "Por que a gravidez não vem?" e coautora de 'Experimentos e Experimentações'.
Escreve às terças.