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    Claudio Bernardes

    Viver em grandes cidades faz bem à saúde?

    19/01/2015 03h00

    Um fato é inconteste, o mundo está se tornando urbano.

    Em 1900, somente 14% da população mundial moravam em cidades. Trinta anos depois, o índice chegou a 70%. A economia de escala, que só é possível nas cidades, principalmente nas maiores, pode proporcionar à população urbana uma série de serviços e opções de trabalho e lazer, que realmente só se viabilizam em grandes centros. Se existem fatos positivos na vida das grandes cidades, podem existir efeitos colaterais na saúde das pessoas, o que nos interessa neste artigo.

    Estudos desenvolvidos pelo Dr. Jaap Peen, na Alemanha, identificaram que viver nas grandes cidades dobra o risco de esquizofrenia, se comparado com a vida em áreas rurais, aproximadamente no mesmo nível de risco daqueles que consomem grandes quantidades de canabis quando jovens. O mesmo estudo demonstra que a vida urbana pode aumentar em até 21% o risco de doenças relacionadas à ansiedade.

    Pesquisas recentes mostram que a exposição à poluição urbana pode afetar as pessoas mesmo antes do nascimento. Os cientistas descobriram que os bebês nascidos nas grandes cidades são maiores e mais pesados –o que normalmente é um bom sinal– do que os nascidos no campo. Porém, quando comparadas as placentas, verificaram que as das mães urbanas tinham altos níveis de um poluente químico chamado xenoestrogênio, que além de causar aumento no crescimento do feto, pode estar associado à obesidade, hiperatividade, puberdade precoce e até mesmo problemas de infertilidade.

    Viver em áreas populosas está vinculado ao aumento do estresse social, uma vez que o ambiente torna-se menos controlável pelo indivíduo. As disparidades sociais também se tornam muito mais evidentes nas cidades e podem levar a mais estresse.

    Porém, nem tudo são más notícias. Infraestrutura, transporte, condições socioeconômicas, nutrição e serviços de saúde são melhores em cidades do que em áreas rurais.

    Estudos desenvolvidos nos EUA mostraram que pessoas com mais de 65 anos têm melhor qualidade de vida nas cidades do que no campo. Os pesquisadores acreditam que isso ocorre porque idosos, em áreas rurais, têm menos conexões sociais do que na cidade.

    A vida no campo historicamente traz imagens de ar puro, alimentos frescos e atividades saudáveis. Mas nos dias de hoje, os americanos que residem em grandes cidades têm, em geral, vida mais longa e saudável do que os que moram no campo, o que representa uma inversão do que acontecia há décadas passadas.

    No Brasil, temos realidades bastante diferentes, porque as condições em algumas áreas rurais do país são dramáticas do ponto de vista do atendimento social e muitas comunidades quase não têm as condições mínimas de sobrevivência. Da mesma forma, as áreas urbanas carecem de melhores modelos de organização social.

    De qualquer forma, esses estudos servem de exemplo para que possamos melhor estruturar a vida em nossas áreas urbanas, uma vez que já temos quase 85% da população morando em cidades.

    Equacionar, da melhor forma possível, as soluções que permitirão a aglomeração de pessoas sem que se coloque em risco a saúde da população é uma meta essencial para nossos planos de desenvolvimento. Para tanto, é necessário que se estabeleça um processo de interação entre planejadores urbanos, arquitetos, médicos e neurocientistas, para que seja possível entender melhor, além dos parâmetros urbanísticos normalmente considerados no planejamento das cidades, quais pré-requisitos biológicos e psicológicos devem ser considerados para uma vida urbana saudável.

    claudio bernardes

    É engenheiro civil e atua como empresário imobiliário há mais de 30 anos. É presidente do Conselho Consultivo do Secovi-SP. Escreve às segundas.

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