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    Claudio Bernardes

    Efeitos do microclima no conforto da população urbana

    08/06/2015 02h00

    A acomodação do crescimento da população urbana no mundo certamente dependerá da expansão das cidades e do adensamento do tecido urbano. Este modelo de desenvolvimento, em parte, será baseado na construção de edifícios altos e em ruas cuja largura não se altera podendo, assim, haver uma alteração no balanço térmico urbano.

    O conforto da população como consequência do microclima varia consideravelmente de cidade para cidade e mesmo dentro das diversas regiões de uma mesma cidade, pois algumas são muito mais ventiladas do que outras, como resultado da posição geográfica e da interação entre as formas urbanas às atividades humanas.

    Comparada às áreas rurais, a complexa estrutura da superfície urbana cria um ambiente com características microclimáticas especiais, com efeitos importantes sobre o fluxo de energia entre o meio ambiente e o corpo humano.

    A temperatura do ar em áreas densamente construídas é geralmente maior do que em áreas suburbanas, criando-se um fenômeno conhecido como "ilhas de calor". As ilhas urbanas de calor não são necessariamente um aspecto negativo nas áreas urbanas, principalmente em climas mais frios. Porém, em cidades com clima quente podem afetar o consumo de energia, o conforto e a saúde dos habitantes.

    Pesquisas sobre as condições térmicas e bioclimáticas de determinadas localidades mostraram que, mesmo em regiões muito próximas umas das outras, porém sombreadas de forma diferente pelos edifícios e pela vegetação do entorno, existem grandes alterações na sensação térmica, que pode variar até 20°C em função das diferenças de irradiação solar.

    A temperatura aparente e, portanto, a sensação térmica, é uma forma de medir o conforto humano nas áreas urbanas. As recomendações técnicas são no sentido de que temperaturas aparentes acima de 41°C sejam consideradas como perigosas para a saúde.

    Muitas pesquisas têm sido feitas para investigar a relação entre temperatura, velocidade do vento, umidade relativa do ar, radiação solar e os níveis de conforto humano. Além disso, os estudos têm tentado encontrar as possíveis formas de mitigar os efeitos criados pelas ilhas de calor. Uma das maneiras é utilizar o efeito resfriador da evaporação de lâminas d'água no nível do solo e mesmo ao nível da cobertura dos edifícios. E, lógico, muita vegetação.

    A existência de vegetação é um dos fatores importantes no ajuste do tecido urbano aos níveis de conforto adequados para a população, pois ela pode reduzir em até 16% a sensação térmica em dias claros e em cerca de 10% em dias nublados.

    Diminuir ou aumentar recuos, trabalhar com a largura das ruas e calçadas, usar modelos volumétricos que utilizem a condução dos ventos como aliada no processo, utilizar elementos arquitetônicos que possam, ao nível da rua, causar sombreamento para os pedestres, entre outras possibilidades, são modelos que devem ser encorajados no planejamento da regulação urbana.

    Cada cidade tem características específicas e merecerá soluções diferentes e adequadas à sua situação geográfica. Todavia, o importante é ter em mente que o microclima a ser criado pela estruturação urbana planejada deve ser considerado. Da mesma forma, as soluções para adequar esse microclima ao conforto humano devem ser pensadas juntamente ao planejamento urbanístico.

    Os recentes resultados de estudos em climatologia urbana devem, portanto, ser considerados no planejamento e na construção da estrutura superficial e na ambiência das áreas urbanas, por serem extremamente relevantes à melhoria do conforto humano nas cidades.

    claudio bernardes

    É engenheiro civil e atua como empresário imobiliário há mais de 30 anos. É presidente do Conselho Consultivo do Secovi-SP. Escreve às segundas.

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