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    Claudio Bernardes

    Acessibilidade e meio ambiente

    08/09/2015 02h00

    Os sistemas de transporte e o formato do espaço urbano governam os modelos de acessibilidade nas cidades e a maneira como influenciarão a vida das pessoas e o meio ambiente.

    Esse tema foi discutido em recente trabalho desenvolvido por Philipe Rode, e publicado pela "London School of Economics".

    Segundo o estudo, a eficiência do acesso a pessoas, mercadorias e serviços aumenta os benefícios da economia de escala, resultantes dos efeitos do adensamento urbano.

    A maneira como as cidades procuram facilitar a acessibilidade, por meio do transporte e de formas urbanas, passa a dirigir também os níveis de emissão de carbono na atmosfera e, portanto, o bem-estar das pessoas.

    As viagens urbanas são efetuadas por meio de três categorias principais: transporte público, transporte não motorizado e transporte motorizado privado.

    Estimativas sugerem que, na média mundial, somente 16% de todas as viagens são efetuadas via transporte público –embora esse número possa variar significativamente conforme a região. Na Ásia e em algumas cidades europeias, o transporte público pode chegar a 51% das viagens, enquanto em muitas cidades norte-americanas os indicadores são inferiores 10%.

    Por outro lado, na maioria das cidades africanas e asiáticas, o transporte não motorizado é predominante. O mesmo acontece em cidades de outros continentes, onde a forma urbana é planejada e construída de modo amigável aos pedestres e ciclistas.

    Embora nem sempre tenha sido assim, os modelos de desenvolvimento urbano deveriam estar diretamente relacionados com a evolução do transporte e da mobilidade.

    Para que se atinjam níveis adequados de acessibilidade nas cidades, é indispensável que se tenha concentração de pessoas, serviços e atividades econômicas. Isso será obtido com uma definição orientada de parâmetros para densidade residencial e locais de trabalho; diferentes graus de distribuição das funções e uso misto; e níveis apropriados de centralização das atividades.

    O transporte tem sido uma das maiores fontes de emissão de carbono. No mundo, todos os dias são feitas 10 bilhões de viagens urbanas, que despejam na atmosfera 6,7 giga toneladas de CO2 por ano (IPCC 2014).

    As emissões crescem mais rapidamente nos transportes do que em qualquer outro setor. E, mantidas as projeções e os modelos atuais, podem dobrar até 2050.

    A intensidade das emissões relacionadas aos sistemas de acessibilidade urbana é determinada por dois fatores principais: a distância a ser percorrida por sistemas motorizados de transporte, o que é estabelecido pela forma do espaço urbano e sua regulação de uso; e a intensidade de emissão relacionada aos modos de transporte utilizados.

    Em Hong Kong, onde 89% de todas as viagens são efetuadas por transporte público, a pé ou de bicicleta, a quantidade de carbono emitida na atmosfera por pessoa é de 378 kg ao ano. Já em Houston, onde a percentagem dessas viagens é 5%, as emissões passam a ser de 5.690 kg por pessoa ao ano, ou seja, quinze vezes maior.

    A poluição do ar gerada por transporte motorizado nas cidades tem aumentado significativamente em função do rápido crescimento de aglomerações urbanas no mundo todo, o que contribui para o aumento de um amplo espectro de doenças cardiovasculares, pulmonares e respiratórias. Segundo estimativas da OCDE, a poluição é responsável pela morte de 3,2 milhões de pessoas por ano no mundo.

    Portanto, crescimento urbano compacto aliado ao desenvolvimento de infraestrutura para transporte público, e planejamento urbano alinhado com modelos que favoreçam o transporte não motorizado, devem tornar as cidades mais acessíveis, com benefícios importantes para a saúde pública e o meio ambiente.

    claudio bernardes

    É engenheiro civil e atua como empresário imobiliário há mais de 30 anos. É presidente do Conselho Consultivo do Secovi-SP. Escreve às segundas.

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