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    Claudio Bernardes

    O encolhimento das cidades

    04/04/2016 01h00

    O crescimento urbano tem apresentado uma série de desafios aos planejadores e administradores municipais, principalmente nos países em desenvolvimento.

    Por outro lado, o encolhimento das cidades começa a ganhar espaço na agenda política europeia. Esse fenômeno não se desenvolve de maneira uniforme, mas todos os países europeus têm cidades que estão encolhendo.

    Isso acontece quando o desenvolvimento urbano é afetado por processos econômicos, políticos e demográficos que resultam na diminuição da população local.

    Estimativas atuais sugerem que 40% de todas as cidades europeias com mais de 200 mil habitantes perderam parte significativa de sua população nos últimos anos, e muitas cidades menores são também afetadas por esse problema.

    Segundo o professor Thorsten Wiechman, pesquisador do centro de desenvolvimento regional de Leibniz, a Europa lida com ilhas de crescimento e um mar de cidades encolhendo. Sem uma ação objetiva, será pouco provável que os governos locais controlem o declínio físico e socioeconômico de um número crescente de assentamentos urbanos.

    Essas cidades enfrentam problemas como diminuição das receitas, aumento das taxas de desemprego, êxodo da população economicamente ativa e infraestrutura superdimensionada para a população atendida.

    Além disso, ao lado do decréscimo da população economicamente ativa, as cidades do bloco europeu enfrentam um aumento expressivo da população com idade superior a 65 anos. Segundo relatório da comissão europeia, o percentual de pessoas aposentadas com mais de 65 anos, que hoje é de quase 25% em relação àquelas em idade economicamente ativa, deve aumentar para 45% em 2050.

    Essas tendências, que têm sérias implicações nas cidades no que diz respeito às adaptações das estruturas urbanas, são mais pronunciadas em função da falta de recursos nas cidades que estão encolhendo.

    Logo, além de encolher, essas cidades acomodarão uma grande população de idosos com menos recursos para enfrentar o problema. Assim, o que fazer para enfrentar esse grande desafio?

    Parece haver um acordo na literatura acerca do assunto, no sentido de que os planejadores incorporem a mudança do conceito de crescimento orientado para o chamado "encolhimento inteligente".

    Ainda segundo o professor Wiechman, a falta de instrumentos adequados para lidar com situações complexas, que envolvem subutilização de edifícios e excesso de infraestrutura, requer novos paradigmas de planejamento.

    Isso sugere que tanto as ações tradicionais de mercado como as intervenções por instrumentos de planejamento financeiro não são suficientes para lidar com o encolhimento urbano e reverter a espiral de declínio que enfrentam aquelas cidades.

    Em função da nova situação demográfica e econômica, o desenvolvimento de uma visão de futuro, em muitos casos, deve ser baseado em capacidades e ativos diferentes daqueles que criaram a prosperidade no passado.

    Em muitos casos, podem ser importantes as diretrizes de aceitar o inevitável e planejar o futuro para uma cidade consideravelmente menor.

    Estudos desenvolvidos pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) mostram que, sozinhas, as cidades não podem enfrentar o encolhimento urbano, e suas necessidades devem ser refletidas nas estruturas de políticas regionais de desenvolvimento.

    As soluções para esse problema não estão completamente compreendidas e equacionadas, mas poderão constituir novas forças para direcionar a modernização e a renovação naquelas cidades, criando uma visão positiva de futuro, adaptada à nova realidade demográfica e econômica.

    claudio bernardes

    É engenheiro civil e atua como empresário imobiliário há mais de 30 anos. É presidente do Conselho Consultivo do Secovi-SP. Escreve às segundas.

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