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    Claudio Bernardes

    Ciclovias e o mercado imobiliário

    30/05/2016 01h00

    O transporte ativo, também conhecido como transporte não motorizado, primordialmente envolvendo caminhadas e deslocamentos com bicicletas, tem recebido nos últimos anos especial atenção de alguns administradores municipais.

    O investimento em infraestrutura para acomodar pedestres e ciclistas pode mudar o formato das cidades e provocar uma reestruturação nos produtos imobiliários.

    A utilização da bicicleta como meio de transporte vem crescendo de forma significativa nas ultimas décadas. Em Amsterdã, conhecida como uma das primeiras cidades do mundo a adotar esse meio de transporte, o número de viagens efetuadas por ciclistas cresceu mais de 40% desde 1990.

    O último senso americano mostrou que o número de pessoas que utilizam bicicletas para se deslocarem até seus locais de trabalho aumentou em 62% entre 2000 e 2014.

    O aumento percentual da utilização de alternativas não motorizadas de deslocamento na matriz de transporte é diretamente proporcional ao investimento em infraestrutura.

    A cidade de Portland,nos EUA, que investiu fortemente em ciclovias nos últimos anos, viu o número de pessoas que se utilizam de bicicletas para deslocamentos crescer para 7% da população em 2014, enquanto a média nacional americana é cerca de 1%. Segundo a secretaria de transportes da cidade, desde 1990, quando começaram os investimentos em infraestrutura, o número de deslocamentos com bicicletas cresceu em 400%.

    Segundo ainda dados de Portland, o custo estimado dos 483 km da rede de ciclovias da cidade, incluindo a pavimentação das faixas de rolamento, proteções e bulevares, foi de US$ 120 mil por quilometro.

    Os efeitos do transporte não motorizado não ficam restritos à melhoria da saúde das pessoas ou do meio ambiente. Têm efeitos muito positivos também no comércio.

    Segundo dados divulgados pela ONG "PeopleForBikes", as pessoas que vão fazer compras de bicicleta gastam menos por viagem do que aquelas que utilizam automóveis para o mesmo propósito. Mas, considerados os gastos médios mensais, aqueles que usam bicicletas acabam gastando mais do que os que utilizam veículos para o mesmo propósito.

    Portanto, sem dúvida, uma cidade com uma rede eficiente de ciclovias, estações "bike-share" e áreas para caminhadas, influenciará a modelagem dos produtos imobiliários no mercado, e isso já está ocorrendo.

    Um exemplo interessante é o empreendimento "Bici Flats", lançado em Des Moines, Iwoa (EUA), com 154 unidades residenciais e com entrega prevista para novembro de 2016.

    O empreendimento está localizado no entroncamento de duas ciclovias, dando aos futuros residentes a opção de deslocarem-se até o centro da cidade pedalando, além de conectarem-se com os 84 km de ciclovias existentes no perímetro urbano.

    Vários empreendimentos desse tipo têm sido lançados e contam ainda com facilidades peculiares, como área especifica para estacionamento das bicicletas, além de espaços especialmente planejados para a sua guarda, também dentro da própria unidade.

    Existe também um espaço exclusivo para consertos e manutenção, com apetrechos e ferramentas específicas para as "bikes", além de oferecerem área com equipamentos para lavagem, antes que elas entrem no edifício. Além disso, alguns empreendimentos colocam à disposição, como um serviço gratuito, estações com bicicletas para uso compartilhado.

    No Brasil, a indústria imobiliária está pronta para colocar no mercado os produtos voltados para usuários de bicicletas. Faltam a estruturação e implantação no tecido urbano de redes panejadas de ciclovias, que sejam permeáveis, seguras, confortáveis e abrangentes do ponto de vista de deslocamentos.

    claudio bernardes

    É engenheiro civil e atua como empresário imobiliário há mais de 30 anos. É presidente do Conselho Consultivo do Secovi-SP. Escreve às segundas.

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