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    Claudio Bernardes

    O futuro das cidades japonesas

    04/07/2016 01h00

    Hoje, a população do Japão é de 126 milhões de pessoas. Porém, em 2050 a previsão é que esse número caia para 97 milhões. No mesmo período, o percentual de pessoas acima dos 65 anos sairá dos atuais 27% da população, para atingir aproximadamente 40%.

    É com base nesse cenário que os planejadores e as autoridades japonesas estudam modelos para o futuro de suas cidades.

    O professor Takeshi Natsuno, da Universidade de Keio, entende que o governo deve parar de investir em regiões com densidade populacional abaixo de determinados limites. Segundo ele, investir em áreas com declínio da população é desperdício de recursos. O dinheiro deve ir para as regiões em crescimento ou as que mantêm sua população.

    O foco deve estar na aceleração da centralização e nas atitudes proativas e inovadoras. Para Hirofumi Tatematsu, diretor do "Nomura Institute", a Internet das Coisas (IOT) e a robótica devem trazer mudanças significativas para o mercado imobiliário das cidades em crescimento. Segundo ainda Tatematsu, aliar maior transparência e acessibilidade a dados e informações, com novos modelos econômicos de compartilhamento, deve provocar no mercado imobiliário a dissociação entre propriedade e uso.

    Recentemente na Conferência do "Urban Land Institute", em Tóquio, ficou claro que o mercado imobiliário deve ser orientado pelo desenvolvimento da infraestrutura, principalmente aglutinando empreendimentos de uso misto aos nós de transporte público.

    Os investidores em infraestrutura são cautelosos na tomada de riscos relacionados ao mercado imobiliário, mas a parceria de profissionais do mercado com esses investidores pode fazer com que os projetos apresentem melhores taxas de retorno, alavancando esse vetor de desenvolvimento.

    O poder público no Japão é proprietário, hoje, de um enorme acervo em infraestrutura, mas deve iniciar um movimento mais enérgico no sentido de privatizar esses ativos, principalmente os aeroportos e as estradas, gerando recursos para os investimentos necessários nas cidades.

    Pensando no futuro, o governo também está buscando dobrar o percentual de energia renovável disponível no país, que atualmente representa 10% da demanda total.

    Todavia, na Conferência de Tóquio, especialistas afirmaram que em função do aumento da população mundial previsto para os próximos 20 anos haverá um forte aumento no uso de energia nas nações em desenvolvimento. Com isso, os combustíveis fóssil e nuclear ainda terão espaço nessas duas décadas futuras, e planejadores municipais devem estar cientes desse processo.

    As cidades japonesas devem reconhecer os problemas e se organizarem para enfrentar os desafios comuns, como problemas ambientais, envelhecimento da população e necessidade de revitalizar a sociedade e a economia.

    A cidade de Toyama, na região de Hokuriku, assim como outras cidades do Japão, adotou como estratégia a busca pela cidade compacta, centrada no adensamento populacional, na proximidade de atividades, no incentivo e na facilitação do uso do transporte público.

    Ações tradicionais para promover a cidade compacta, como conceder subsídio à construção de habitações em áreas localizadas num raio de 500 metros de estações do metrô ou trem e incentivar a produção urbana de vegetais pela hidroponia, aumentaram em 15% a percentagem de habitantes nas áreas mais centrais e reduziram os custos de administração e manutenção da cidade.

    Essas e outras experiências podem e devem servir de exemplos para cidades espalhadas pelo mundo e que enfrentarão problemas parecidos com os das cidades japonesas.

    O futuro da civilização repousará em cidades bem planejadas. E o futuro das cidades, em espaços bem planejados.

    claudio bernardes

    É engenheiro civil e atua como empresário imobiliário há mais de 30 anos. É presidente do Conselho Consultivo do Secovi-SP. Escreve às segundas.

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