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    Claudio Bernardes

    Uma nova agenda para a África

    11/07/2016 01h00

    A população do continente africano deve triplicar nos próximos 50 anos. Sem uma transformação estrutural, principalmente no sentido de administrar apropriadamente o rápido processo de urbanização, não será possível lidar com os desafios decorrentes desse crescimento.

    A taxa de urbanização na África, que em 1960 girava em torno de 15%, cresceu para 40% em 2010. Projeções da ONU (Organização das Nações Unidas), que propõe uma nova agenda urbana para o desenvolvimento do continente, indicam que, em 2050, 60% de sua população viverá em cidades.

    Milhões de africanos praticam, hoje, o "pan-africanismo", movimento que prega a união de todos os povos africanos para aumentar a influência internacional do continente. Em função disso, uma forte migração entre cidades, com cruzamento de fronteiras nacionais, está estruturando uma forma de integração sociocultural. A "União Africana" promove a cooperação continental, comanda a união de forças militares para serem enviadas a zonas de conflito e, regularmente, debate os prós e os contras dessa grande unificação.

    Esse movimento é também um convite à democracia, à melhoria da governança e ao desenvolvimento econômico.

    Jovens africanos têm procurado a vanguarda, forjando a almejada unidade continental com o uso das mídias sociais, que se tornaram plataformas populares de interação e promoção de debates.

    Contudo, existe grande variação no nível de urbanização de um país para outro, e crescimento populacional concentrado nas regiões mais pobres.

    Portanto, a integração espacial tem importância fundamental. O acesso a oportunidades econômicas dependerá da eficiência do fluxo de recursos, energia e informações, que, por meio dos sistemas urbanos, poderá ancorar uma atividade econômica sustentável.

    Por outro lado, o déficit da capacidade de infraestrutura instalada e as dificuldades de financiamento criam uma situação de tremenda pressão no julgamento das prioridades dos investimentos, levando ao adiamento de decisões importantes e, consequentemente, dificultando o processo de fortalecimento da integração continental.

    Políticas urbanas nacionais devem considerar a dinâmica do desenvolvimento econômico regional e sua inserção no âmbito continental, uma vez que os países africanos são marcados por uma complexa interdependência das economias formal e informal.

    A solução para esse problema passa, obrigatoriamente, pela redução da pobreza. Para isso, é necessário o desenvolvimento de padrões inovadores de crescimento, mesmo que, num primeiro momento, associados a estratégias que considerem a economia informal e possam requalificar a população em termos de produtividade, habilidades, empreendedorismo e conhecimentos básicos de finanças.

    Uma completa reforma legislativa voltada ao planejamento urbano e uso do solo deve ser estabelecida. Aplica-se o mesmo à regulação da infraestrutura setorial, como transporte, energia e saneamento, hoje, na maioria dos países da região, desestruturada e ineficiente.

    Não há dúvidas de que será necessária uma extraordinária vontade política, clareza de entendimento e investimento em pesquisas para lidar com os enormes desafios que afligem a maioria das cidades e dos países africanos.

    Uma profunda alteração nos modelos de governança deve criar mecanismos mais apropriados para moderar conflitos e conduzir às melhores decisões de desenvolvimento das cidades.

    De qualquer forma, o entendimento diferenciado do território, a democracia, o respeito à justiça e aos direitos humanos devem forjar a base dessa nova agenda para o futuro africano.

    claudio bernardes

    É engenheiro civil e atua como empresário imobiliário há mais de 30 anos. É presidente do Conselho Consultivo do Secovi-SP. Escreve às segundas.

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