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    Claudio Bernardes

    É preciso melhorar as condições das vias para os pedestres

    15/08/2016 01h00

    Em um mundo cada vez mais urbano, onde a mobilidade torna-se fator preponderante no planejamento, focar em mecanismos que possam tornar as comunidades mais amigáveis aos pedestres parece ser um vetor importante para o direcionamento do desenvolvimento das cidades.

    Toda viagem urbana começa e termina com uma caminhada, a forma de transporte mais acessível, equitativa e barata que uma cidade pode oferecer.

    Bairros e regiões amigáveis a pedestres, onde o ambiente urbano tem escala humana, são mais vivos, melhoram a interação social e tornam a vida da população mais saudável. Estudos desenvolvidos nos Estados Unidos mostram que os residentes em comunidades com essas características pesam de três a cinco quilos menos do que aqueles que moram em subúrbios com alta dependência do automóvel.

    A idade e a incapacidade funcional podem dificultar a locomoção das pessoas. Mas uma estrutura bem planejada para pedestres pode assegurar, ainda assim, que a maioria tenha níveis razoáveis de mobilidade pessoal nos espaços urbanos.

    Na região metropolitana de São Paulo, onde ocorrem 44 milhões de viagens por dia, aproximadamente 14 milhões dessas viagens são feitas a pé, mas nem sempre em condições adequadas. Existem, portanto, muitas oportunidades para melhorar as condições de caminhada dos pedestres e, dessa forma, melhorar a qualidade de vida.

    Segundo estudo publicado pela Bicycle Federation of America Campaign to Make America Walkable, as comunidades consideradas amigáveis aos pedestres têm algumas características básicas:

    1) Pessoas de todas as idades e capacidades físicas têm fácil acesso às áreas mais importantes sem a necessidade de veículos motorizados. As ruas são projetadas ou reformadas tendo em vista a compatibilização do movimento de automóveis com o tráfego de pedestres para possibilitar as caminhadas com maior segurança e conforto.

    2) Calçadas limpas, organizadas e pavimentadas adequadamente estão inseridas num contexto onde o uso e a ocupação do solo no entorno são compatíveis com a conexão, por caminhadas, entre pontos de interesse para as atividades do dia a dia.

    Por outro lado, além das indiscutíveis vantagens para a cidade de modelos que privilegiem as caminhadas, comunidades amigáveis a pedestres influenciam a valoração dos imóveis em seu entorno.

    Trabalho publicado pela entidade americana CEOs For Cities mostra que em regiões onde é possível desempenhar as atividades diárias a pé, imóveis semelhantes podem ter preços que variam de US$ 4 mil a US$ 34 mil acima daqueles situados em regiões sem essas características.

    Esses estudos foram baseados num índice ("walkscore") que mede o número de destinos típicos de consumo localizados a determinadas distâncias dos imóveis. Esse índice varia de zero (para locais totalmente dependentes de automóvel) a 100 (para aqueles totalmente independentes do uso do automóvel).

    Os resultados mostram que o mercado imobiliário valora positivamente imóveis que estão em locais onde é possível caminhar para desempenhar as atividades diárias, e esse fenômeno parece ter maior importância em centros urbanos mais populosos.

    De qualquer forma, em cidades maiores ou menores, é necessário que as pessoas tenham mais escolhas de deslocamento para escola, trabalho, parques ou compras. É importante que os mais novos, mais velhos e aqueles com alguma deficiência possam se movimentar com relativo conforto em ambientes que os encorajem a se tornar um pedestre ativo.

    Cidades, calçadas e espaços públicos devem ser mais bem preparados para acomodar os pedestres, e a percepção dessa necessidade é o primeiro passo para alcançarmos esse objetivo.

    claudio bernardes

    É engenheiro civil e atua como empresário imobiliário há mais de 30 anos. É presidente do Conselho Consultivo do Secovi-SP. Escreve às segundas.

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