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    Claudio Bernardes

    Ao se reconstruir, Hiroshima virou exemplo de desenvolvimento urbano

    05/09/2016 01h00

    Muitas cidades têm dificuldades em lidar com os problemas relacionados ao desenvolvimento urbano –em especial aquelas que sofrem ou sofreram importantes desastres naturais. Mas o que dizer de uma cidade que foi completamente devastada por uma bomba atômica?

    Em 6 de agosto de 1945, a bomba atirada sobre Hiroshima, no Japão, matou cerca de 140 mil pessoas e, nos anos seguintes, mais 145 mil morreram por exposição à radiação. Isso significou o extermínio de 65% da população da cidade e a destruição de 90% de todos os edifícios urbanos.

    Rumores da época diziam que não haveria vegetação ou flores em Hiroshima nos 75 anos seguintes à explosão da bomba, por causa da radiação. Seria possível reconstruí-la no mesmo local?

    Embora a dúvida fosse pertinente, o desejo dos sobreviventes de mostrar ao mundo a obstinação e a capacidade de recuperação sobrepujou os receios e as incertezas, permitindo que fosse trilhado o caminho do reerguimento da cidade.

    A primeira tarefa para a reconstrução foi recolher e queimar o restante dos cadáveres, além de limpar todos os destroços e detritos, trabalho que levou dois anos para ser completamente concluído.

    O passo seguinte, marco do renascimento de Hiroshima, foi a construção do Parque Memorial, localizado na cratera onde a bomba explodiu. Os sobreviventes começaram a construir suas casas individualmente e, seis meses após o final da guerra, 5.000 casas estavam reconstruídas.

    A Prefeitura de Hiroshima também começou a construir habitações, mas os trabalhos tiveram de ser interrompidos após a conclusão de apenas 392 casas, no final de 1946, porque faltou madeira.

    A educação passou a ser vital nessa reconstrução, porque a bomba atômica destruiu a maioria das escolas, tornando 80% delas absolutamente disfuncionais. Adotaram, então, as chamadas "sala de aula do céu azul", com quase nenhum equipamento ou artigos de papelaria.

    Com escassez de recursos e as imensas dificuldades do pós-guerra, não se encontravam alternativas eficientes para promover o desenvolvimento da cidade.

    Uma das soluções encontradas pelo governo japonês foi a edição de leis que permitissem a fusão de municípios, o que possibilitou às aldeias circundantes, não afetadas pela bomba, integrarem a cidade de Hiroshima.

    O plano de reconstrução previa projetos de novas avenidas, parques, reflorestamento e redivisão do solo, tornando possível a reorganização do espaço urbano. A cidade começava a percorrer seu caminho em direção ao desenvolvimento novamente.

    Kyodo - 6.ago.2016/Reuters
    Pombas voam sobre o parque Memorial da Paz, em Hiroshima
    Pombas voam sobre o parque Memorial da Paz, em Hiroshima

    Nos anos seguintes, 13 vilas vizinhas foram anexadas a Hiroshima, o que aumentou a população para 500 mil pessoas até o ano de 1975 e para 1 milhão de habitantes em 1995, após mais fusões municipais e desenvolvimento da cidade.

    Essas fusões permitiram à cidade readequar a infraestrutura urbana e conseguir os recursos necessários para dar sequência ao processo de reconstrução. A Prefeitura de Hiroshima iniciou a recolocação de desempregados, contratando 100 mil pessoas para trabalhar na reconstrução dos espaços e em edifícios públicos.

    Uma filial da agência nacional de fomento para pequenas e médias empresas foi implantada em Hiroshima, para financiar as indústrias de pequeno e médio portes.

    À medida que a cidade começava a prosperar, tornava-se mais atraente, trazendo novos habitantes e ajudando a economia municipal a se desenvolver.

    O processo de reconstrução fez de Hiroshima uma das mais belas e industrialmente produtivas cidades do mundo, dedicada à causa da paz no planeta.

    Seus cidadãos deram ao mundo um exemplo do que pode ser conseguido com comprometimento, disciplina e determinação, recriando das cinzas uma cidade ultramoderna e inserida em um ecossistema impossível de se imaginar em agosto de 1945.

    claudio bernardes

    É engenheiro civil e atua como empresário imobiliário há mais de 30 anos. É presidente do Conselho Consultivo do Secovi-SP. Escreve às segundas.

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