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    Claudio Bernardes

    Por que as construções sustentáveis não decolam?

    10/10/2016 02h00

    Com o crescimento mundial das áreas urbanas, crescem também o número de construções e os efeitos no meio ambiente. Segundo pesquisadores norte-americanos, os edifícios representam quase 30% do total das emissões de carbono e 40% do consumo de energia.

    Os números são bastante significativos e, por essa razão, existe um forte movimento no sentido de incentivar construções mais eficientes do ponto de vista ambiental, de tal forma que a transição entre os edifícios convencionais e os lastreados em práticas e tecnologias sustentáveis seja mais rápida.

    Contudo, de acordo com o índice de adoção de edifícios sustentáveis publicado pela CBRE em 2015 (National Green Building Adoption Index), somente 5,3% dos edifícios comerciais receberam certificação. Estimativas do "US Green Building Council" apontam para 2% os novos edifícios com a certificação LEED, uma das mais importantes certificações sustentáveis do mundo.

    Estudos relacionados a edifícios sustentáveis têm olhado menos para os custos e mais para a determinação de resultados, que indicam, no caso da locação, valores entre 13% e 30% superiores aos dos edifícios convencionais. No caso de venda, esses valores podem ser superiores em até 16%.

    Esse acréscimo pode refletir uma eventual economia futura na operação e o aumento no custo necessário para produzir edifícios eficientes do ponto de vista ambiental.

    Recente trabalho publicado por pesquisadores do MIT (Massachusetts Institute of Tecnology) traz os resultados de pesquisa cujo objetivo foi analisar a magnitude, a heterogeneidade e a dinâmica temporal dos custos envolvidos na construção de edifícios, entre 2003 e 2014, no Reino Unido. A amostra foi composta por 181 edifícios sustentáveis e 306 edifícios convencionais, com de características arquitetônicas semelhantes.

    Com base na amostragem, os resultados apontaram a inexistência de uma diferença estatística significativa nos custos marginais de construção entre os dois tipos de edifício, a não ser naqueles classificados pelo sistema britânico de certificação Breeam (Building Research Establishment Environmental Assessment Method) como "excellent" e "outstanding" (excelente e marcante), onde foram identificadas diferenças econômicas e estatisticamente relevantes em relação aos edifícios convencionais. Por outro lado, nos custos de projeto, foram detectadas diferenças consideráveis.

    Edifícios certificados ambientalmente têm custos de projeto 65% superiores aos convencionais. Quando a classificação é "excellent" e "outstanding", esses custos chegam a ser superiores em 187%.

    Segundo os pesquisadores, esses altos custos de projeto podem influir negativamente na decisão dos empreendedores de se engajarem na construção sustentável.

    Embora os custos de projeto representem aproximadamente 4% dos custos totais de construção, são despesas que devem ser pagas no início do processo, momento em que ainda pode existir alguma incerteza quanto às licenças e aprovações. Além disso, esses custos, normalmente, não estão englobados no montante objeto do financiamento bancário. Isso, segundo os pesquisadores, pode explicar, em parte, os motivos de as construções sustentáveis não decolarem.

    A análise do tempo de construção fornece uma explicação adicional à lenta absorção de práticas mais eficientes. Segundo o estudo, edifícios certificados levam, em média, 30% mais tempo para serem concluídos. A demora implica em aumento na espera de recuperação dos investimentos iniciais por parte dos empreendedores.

    De qualquer forma, os custos de projeto devem decrescer nos próximos anos, refletindo o aumento da experiência e produtividade dos arquitetos e incorporadores na elaboração de projetos ambientalmente eficientes. A mudança será percebida, da mesma forma, no tempo de construção. Esses fatores ajudarão a ampliar o universo de construções sustentáveis.

    claudio bernardes

    É engenheiro civil e atua como empresário imobiliário há mais de 30 anos. É presidente do Conselho Consultivo do Secovi-SP. Escreve às segundas.

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