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    Claudio Bernardes

    Disfunções no metabolismo das cidades dão origem a doenças urbanas

    14/11/2016 01h00

    O termo "metabolismo", usado desde o século 19 nos campos da biologia e da bioquímica para caracterizar mudanças químicas entre células, tem sido adotado nos últimos anos para definir como fatores ambientais, sociais e econômicos interagem entre si no processo de desenvolvimento das cidades.

    O primeiro a explicitar o conceito de metabolismo urbano foi o engenheiro Abel Wolman, em 1965. Ele modelou o metabolismo de uma cidade americana hipotética, com um milhão de pessoas, em relação à deterioração da qualidade do ar e da água. O objetivo era analisar cidades por meio da quantificação daquilo que entra –como água, alimentos e combustíveis–, com aquilo que sai –esgotos, resíduos sólidos e poluentes do ar–, rastreando simultaneamente os fluxos e as respectivas transformações.

    Contudo, somente em 1990 o metabolismo urbano passou a ser expresso sob a ótica de duas preocupações: a capacidade de o planeta alimentar e manter uma população em crescimento, e o poder destrutivo da atividade humana em relação aos recursos naturais finitos.

    As cidades são similares aos organismos vivos, pois consomem os recursos disponíveis em seu entorno para poder exercer as atividades programadas e eliminam as sobras. As disfunções desse processo metabólico podem ser a origem das doenças urbanas.

    À medida que aumenta a demanda por materiais e energia para sustentar o crescimento das cidades, o entendimento de seu metabolismo torna-se extremamente importante para os planejadores e responsáveis pela tomada de decisões. Nesse contexto, a noção de metabolismo urbano está relacionada com a interação entre todos os subsistemas que compõem uma região urbana.

    Os últimos estudos nesse campo focam a otimização do metabolismo urbano como uma forma de tornar as cidades autossuficientes na geração de recursos e disposição de resíduos, de tal forma que os fluxos de materiais e energia possam formatar os vetores econômicos, sociais e ambientais.

    Um estudo publicado recentemente pelo "Asian Development Bank" procura entender como as sociedades podem colher os benefícios da urbanização e, ao mesmo tempo, minimizar custos e problemas associados ao desenvolvimento.

    Nesse estudo, onde se procura entender a correlação entre o uso dos recursos naturais e as atividades econômicas, é proposta uma abordagem simplificada de metabolismo urbano baseada em análises de fluxos de materiais e energia, e que foi aplicada a seis cidades asiáticas: Bangalore, Bangkok, Ho Chi Minh, Manila, Seul e Shanghai.

    Os resultados mostram que a caracterização da distribuição espacial dos fluxos relacionados ao metabolismo urbano possibilita identificar zonas onde os sistemas de suporte da infraestrutura estão mais sobrecarregados e encontrar as possíveis alternativas para melhorá-los.

    Além disso, sugere de que forma os esforços de planejamento podem ser eficientemente coordenados, especialmente na administração da disposição de resíduos, e na identificação de atividades que podem contribuir para diminuir a emissão de gases de efeito estufa e de outros tipos de poluentes.

    Parece claro que o melhor entendimento do metabolismo urbano é uma notável oportunidade de compreender os limites entre economia e meio ambiente, além de estabelecer uma forte conexão entre essas dimensões no âmbito urbano. O modelo apresenta, portanto, potencial para uma importante contribuição ao projeto sustentável das cidades, especialmente no que diz respeito aos sistemas urbanos e de infraestrutura.

    claudio bernardes

    É engenheiro civil e atua como empresário imobiliário há mais de 30 anos. É presidente do Conselho Consultivo do Secovi-SP. Escreve às segundas.

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