• Colunistas

    Sunday, 05-May-2024 00:55:09 -03
    Claudio Bernardes

    Estarão nossas cidades preparadas para os carros autônomos?

    30/01/2017 02h00

    Os carros autônomos, ou veículos sem motoristas, poderão causar grande impacto na vida das nossas cidades em um futuro próximo.

    Embora seja de amplo conhecimento o estágio de desenvolvimento tecnológico desse tipo de veículo, a repercussão de sua implantação no planejamento e desenvolvimento das áreas urbanas não é ainda totalmente compreendida. Sua influência na infraestrutura, no sistema de transporte público e mesmo no mercado imobiliário deve ser mais bem avaliada.

    Veículos autônomos, segundo especialistas, poderiam reduzir em até 90% os quase 1,3 milhão de acidentes rodoviários fatais ocorridos no mundo anualmente, além de colaborar para que se obtenham muitos outros benefícios relacionados ao transporte e à mobilidade urbana. Contudo, o processo de transição para esse modelo requer drástica mudança na indústria e ampla reformatação dos transportes público e privado.

    Essa mudança não ocorrerá de forma adequada se não forem compreendidos os principais desafios trazidos por esse novo modelo à dinâmica da mobilidade urbana e ao processo de planejamento.

    Grandes cidades geram tráfego. Porém, tráfego não gera grandes cidades. Podemos induzir a criação de grandes centros urbanos com a estruturação das decisões de planejamento relacionadas ao transporte e ao uso do solo, tendo em mente os veículos autônomos e as suas potencialidades.

    A implantação de sistemas baseados em veículos sem motoristas deve resultar na diminuição do tempo de viagem, tendo como consequências a redução da demanda por novas vias e a necessidade de espaços para estacionamento. Dessa forma, fica clara a importância de investimentos na melhoria e adaptação do sistema viário existente, de forma a acomodar o tráfego desse novo tipo de veículo.

    Entretanto, será necessário um longo período de transição para que os veículos autônomos compartilhem as ruas e avenidas com os veículos tradicionais, dirigidos por motoristas. Dessa forma, devemos nos preparar para conviver em um sistema híbrido, estruturado em regramentos e tecnologia capazes de acomodar, com segurança, a interação entre as máquinas autoguiadas e os, por vezes, relapsos motoristas.

    O treinamento e a educação no trânsito, sem dúvida, deverão passar por profunda reciclagem.

    Parece difícil, pelo menos no início dessa transição, que veículos autônomos e dirigidos por humanos possam compartilhar as mesmas faixas nas vias, devendo ser criadas, portanto, faixas e até vias exclusivas para os autônomos, que crescerão conforme o aumento do número desses veículos.

    Os veículos automatizados não utilizarão somente o seu sistema inteligente para tomar decisões. Ele deverá, ao contrário, estar conectado ao de outros veículos e também a sensores localizados ao longo das vias e de pontos específicos da cidade. Portanto, além de equipar as ruas com o sistema sensorial necessário, os veículos dirigidos por humanos deverão ser também dotados de sistemas capazes de se comunicar com os veículos automatizados.

    Essa adaptação nas máquinas e nas vias trará efeitos colaterais importantes, principalmente porque possibilitará enviar informações para centrais de tráfego, que ajustarão o fluxo de veículos em determinadas áreas para melhorar a fluidez e diminuir o tempo de viagem.

    Além de preparar as cidades para acomodar a gradual implantação de veículos autônomos, devemos conscientizar nossos planejadores acerca das potencialidades vinculadas ao seu envolvimento nos modelos de análise e estruturação dos planos de desenvolvimento urbano.

    claudio bernardes

    É engenheiro civil e atua como empresário imobiliário há mais de 30 anos. É presidente do Conselho Consultivo do Secovi-SP. Escreve às segundas.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024