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Boulevard Olímpico, no Rio de Janeiro, tem obra do grafiteiro paulistano Eduardo Kobra |
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Colunistas
Saturday, 04-May-2024 07:45:13 -03Claudio Bernardes
Queremos arte e não vandalismo
20/02/2017 16h07
Parece correto afirmar que a população de São Paulo, e creio que de outras capitais do Brasil, não é contra o grafite nas cidades. Feito por artistas, de forma organizada e em locais predeterminados do espaço urbano, o grafite deve não só ser apoiado, mas também estimulado. Ele representa uma forma de arte urbana, que pode e deve ser considerada como legado para a cidade e sua história.
Por outro lado, a esmagadora maioria da população é contra a ação de vândalos que, de forma criminosa, depredam e estragam monumentos públicos sem nenhum respeito pela cidade e a propriedade alheia.
Escrevem nas paredes dos espaços públicos e privados letras incompreensíveis, que provavelmente identificam o autor daquela barbárie para que, posteriormente ao ato, possam sentir satisfação pela infração. Mas isso entristece os cidadãos, que vêm sua cidade suja, deteriorada e feia.
Esse fenômeno aconteceu e acontece em outras cidades do mundo. Porém, várias delas conseguiram acabar com esse problema que tanto incomoda as pessoas que têm amor à cidade e aos seus espaços.
Nova York é um bom exemplo. A cidade viveu essa situação na década de 1990, quando o então prefeito Rudolf Giuliani criou uma força-tarefa para combater esse tipo de vandalismo. Ele teve como inspiração a "teoria da janela quebrada", segundo a qual uma única janela quebrada pode dar a aparência de abandono a um edifício, e estimular indivíduos inescrupulosos a quebrarem outras, num ciclo que pode terminar com a degradação total do prédio.
Esse movimento contra a depredação dos espaços da cidade ganhou força no governo de Michel Bloomberg que, dando continuidade ao projeto de Giuliani, colocou todo o peso da estrutura municipal para erradicar, de uma vez por todas, esse tipo de ação anticidadã.
A força-tarefa criada por Bloomberg incluía a participação de vários departamentos da cidade, como sanitário, bombeiros, polícia, transportes, cultura, proteção ambiental e mesmo cidadãos voluntários. A missão do grupo era combinar prevenção, educação, remoção, desenvolvimento de soluções técnicas e conscientização da comunidade com o intuito de erradicar o vandalismo contra os espaços da cidade.
Quase 70 policiais e funcionários administrativos da prefeitura trabalhavam, durante o dia, informando e educando crianças nas escolas, principalmente, e à noite, disfarçados, prendendo os vândalos que deterioravam a cidade.
A partir desse trabalho, foi possível criar uma base de dados com a identificação dos contraventores, suas características e formas de atuação, que foram incluídas em fichas criminais. Essas ações resultaram em mais de 2.800 prisões, gerando a redução drástica na cidade.
As armas contra esse tipo de atitude, além da educação e conscientização, incluem vigilância constante, que pode ser significativamente ampliada com o auxílio da população, por meio de aplicativos de denúncias acoplados a sistemas georreferenciados. E também, é claro, de equipamentos de limpeza, pintura e muita tinta.
Em Nova York, durante o processo de erradicação do vandalismo urbano, foram removidos quase dois milhões de metros quadrados de pichações. Voluntários e doadores da própria comunidade tiveram importante papel nesse processo, o que permitiu distribuir para aqueles que se dispuseram a ajudar a cidade na remoção das pichações, 65 mil litros de tinta e mais de 15 mil rolos de pintura. Contudo, a vigilância constante continua a ser absolutamente necessária. Hoje, Nova York conta com caminhões de limpeza no patrulhamento da cidade e na remoção imediata de eventual vandalismo.
Definitivamente, queremos arte e não vandalismo. Talvez, a formação, em São Paulo, de uma ampla força-tarefa contra os pichadores possa ser o início de um processo para livrar a cidade dessa nefasta poluição visual.
É engenheiro civil e atua como empresário imobiliário há mais de 30 anos. É presidente do Conselho Consultivo do Secovi-SP. Escreve às segundas.
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