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    Claudio Bernardes

    Locação deve ser parte da solução do deficit de moradia

    12/06/2017 02h00

    Durante muito tempo, para uma grande parte das pessoas, alugar em vez de comprar uma moradia foi somente uma questão de capacidade financeira, e não de escolha. Mas isso pode estar mudando.

    A Alemanha já é o país onde existe a maior proporção de pessoas que preferem a locação. Somente 39% da população mora em casa própria, em contraste com 60% no Reino Unido. Na França, pouco mais de 50% da população vive em imóveis próprios, sendo que, em Paris, esse número não passa dos 30%.

    Mesmo nos EUA, onde o percentual de proprietários sempre foi em torno de 70%, o total chegou a 63% em 2015, figurando como o menor índice desde a década de 1960.

    A população de muitos países tem arraigado em sua cultura o desejo de possuir um imóvel para a moradia, com o objetivo de prover um local seguro e estável para sua família. Por outro lado, nesses mesmos países, muitas pessoas, principalmente os mais jovens, começam a valorizar bastante a liberdade e a existência de opções e alternativas de local de moradia e trabalho.

    Além disso, o aumento do preço dos imóveis é um fenômeno mundial, e isso dificulta a aquisição por aqueles em começo de carreira, normalmente mais jovens. Segundo o GHPI (Global House Price Index), o preço dos imóveis tem aumentado em valor real nos últimos anos na grande maioria dos países.

    A decisão simplesmente baseada numa opção de investimento financeiro entre comprar ou alugar não é tão simples, e depende da suposição de uma série de hipóteses e parâmetros, nem sempre tão facilmente previsíveis.

    Por outro lado, a falta de recursos para aquisição, aliada à vontade de ter flexibilidade e morar em locais mais valorizados, faz da locação uma alternativa muito clara para os jovens, e traz para o mercado imobiliário um desafio instigante.

    Produzir moradia para locação, em lugares interessantes, a preços compatíveis, com a capacidade de pagamento das diversas camadas de renda da população, não é tarefa simples. Em muitos casos, incentivos do poder público, tanto tributários quanto urbanísticos, podem ser muito importantes, não só, mas principalmente, no que diz respeito à baixa renda.

    De qualquer forma, um ponto parece bastante claro: a opção entre comprar ou alugar somente fará sentido se houver imóveis para locação com qualidade, requisitos e em quantidades compatíveis com a potencial demanda.

    No caso do Brasil, o percentual de pessoas que moram de aluguel ainda é baixo, se comparado com outros países. Na média mundial, a relação entre as unidades alugadas e o total de domicílios é de 33%, e no Brasil é de apenas 16%. Assim, é necessário um esforço conjunto para que se construam modelos factíveis para a produção em larga escala de imóveis destinados à locação no país.

    Não podemos prescindir de usar a locação acessível como parte da solução do deficit de moradia que temos hoje, principalmente considerando que 96% do deficit habitacional brasileiro está nas faixas de renda abaixo de cinco salários mínimos.

    Está realmente na hora de pensarmos em programas de produção de moradias voltados para locação, em condições economicamente viáveis e atrativas para o mercado, mas que, ao mesmo tempo, possam ser compatíveis com poder aquisitivo da população a que se destina, ponderando e regulando de forma adequada os incentivos e direcionamentos necessários.

    claudio bernardes

    É engenheiro civil e atua como empresário imobiliário há mais de 30 anos. É presidente do Conselho Consultivo do Secovi-SP. Escreve às segundas.

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