Quando ouvimos falar em micróbios -categoria que inclui as bactérias-, instintivamente, fazemos a associação com algo negativo e prejudicial ao meio ambiente e à saúde. Porém, nem sempre isso corresponde exatamente à realidade.
Dentre os diversos seres que fazem parte da natureza, os micróbios desempenham importantes funções no ecossistema. Eles contribuem com a biodiversidade, os ciclos de nutrição e, como controlam a composição dos gases, têm importante papel nas mudanças climáticas.
Nos ecossistemas urbanos, os microbiomas representam a maior parte da biodiversidade e são agentes importantes nos ciclos naturais. Portanto, a sustentabilidade das cidades, em longo prazo, está intrinsecamente conectada aos micróbios e à sua evolução.
Recente estudo feito por pesquisadores da Universidade de Oregon, nos EUA, sugere que a composição da comunidade bacteriológica urbana pode ser importante para a saúde humana. Por exemplo, uma atmosfera saudável depende não só da falta de coisas ruins, como poluentes, mas da presença de coisas boas, como bactérias, com as quais os seres humanos evoluíram de forma conjunta.
Os micróbios podem ser encontrados nos componentes naturais e construídos dos ecossistemas urbanos, incluindo atmosfera, vegetação, solo, corpos d'água, superfícies dos edifícios, telhados verdes, ambientes internos e seres humanos. Segundo estimativas recentes, o homem tem 30 trilhões de células e 40 trilhões de micróbios no corpo. Esses micróbios habitam, também, os elementos da infraestrutura das cidades.
Os micróbios têm a maior diversidade genética da Terra. Cientistas estimam a existência de bilhões de espécies, embora tenham descrito apenas 5% delas. Nas cidades, os micróbios constituem o maior grupo de biodiversidade genética, participando de uma grande variedade de serviços ecossistêmicos, que sustentam as atividades humanas.
Estudos científicos têm demonstrado a possibilidade de manipular microbiomas ou suas funções para alcançar objetivos específicos como controlar a deterioração dos materiais de construção, ou mesmo produzir superfícies nos edifícios com capacidade de degradar poluentes.
Os sistemas de tratamento dos esgotos urbanos também utilizam comunidades bacteriológicas para reduzir a concentração de carbono orgânico e purificar os efluentes, contribuindo de forma importantíssima para a melhoria da qualidade do meio ambiente.
Alguns estudos compararam a saúde de crianças criadas em fazendas com as que se desenvolveram nas cidades. A conclusão é que a menor incidência de alergias nas crianças de fazendas relacionava-se com as diferentes exposições microbianas a que eram submetidas. Por outro lado, ainda existem poucos trabalhos acerca da existência de variação microbiana suficiente em parques urbanos para influenciar positivamente a saúde das crianças nas cidades. Um aprofundamento nessa avaliação poderia nos ajudar a planejar esses locais com microbioma favorável do ponto de vista da saúde humana.
Compreender a relação entre as potenciais mudanças na diversidade microbiana impulsionada pela urbanização com a função e a estabilidade das comunidades microbianas proporcionará uma importante visão de resiliência em um planeta urbanizado.
Existem inventários razoavelmente completos para a diversidade vegetal e animal nos sistemas urbanos, mas avaliações comparáveis para microbiomas não estão desenvolvidas. Isso poderia ser importante para nos ajudar a localizar e identificar as comunidades de microrganismos nocivos aos ambientes urbanos e potencializar a utilização daquelas que podem atuar favoravelmente aos espaços das cidades e de seus cidadãos.
É engenheiro civil e atua como empresário imobiliário há mais de 30 anos. É presidente do Conselho Consultivo do Secovi-SP. Escreve às segundas.