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    Claudio Bernardes

    Desigualdade e exclusão são desafios do crescimento da população urbana

    23/10/2017 02h00

    Bruno Poletti/Folhapress

    Desde 1990, o mundo tem assistido a um substancial aumento da população nas áreas urbanas. Essa não é uma nova tendência, mas, em números absolutos, esse aumento tem sido bastante significativo. Saímos de um crescimento anual da população urbana de 57 milhões de pessoas, aproximadamente, entre 1990 e 2000, para 77 milhões, entre os anos de 2010 e 2015.

    Esse crescimento trouxe para as cidades uma série de desafios importantes, nem sempre fáceis de serem enfrentados adequadamente pelos administradores municipais.

    Dentre esses inúmeros desafios, estão o fornecimento de serviços, o aumento de favelas e assentamentos irregulares, a insegurança, a extensão física da malha urbana, a mobilidade, a falta de governança, o aumento das desigualdades e, ultimamente, o crescimento da migração internacional.

    Por outro lado, a nova agenda urbana proposta e aprovada no Habitat III, encontro promovido pela ONU (Organização das Nações Unidas), prevê a promoção de assentamentos humanos ambientalmente sustentáveis e resilientes, socialmente inclusivos, livres de violência, economicamente produtivos, mais bem conectados e que possam, ainda, contribuir com a transformação rural sustentável.

    Segundo o relatório mundial de cidades publicado pela UN Habitat, em 2016, à medida que a população urbana aumenta, eleva-se a área ocupada pelas cidades, porém, em uma proporção ainda maior. A amostragem de 120 cidades observadas entre 1990 e 2000 mostrou que, enquanto a população cresceu a uma taxa média de 17%, a área ocupada cresceu a 28%. Projetando-se esses números para 2030, se dobrar a população dos países em desenvolvimento, a área ocupada pelas cidades irá triplicar.

    Esse modelo é um desperdício em termos de uso do solo e consumo de energia, e também nocivo no que diz respeito à emissão de gases de efeito estufa. Nesse contexto, o adensamento racional passa a ser uma ferramenta fundamental de planejamento urbano, e essencial para o adequado controle da expansão geográfica das cidades.

    Nas últimas décadas, em muitos países nas regiões em desenvolvimento, verificou-se o declínio nas taxas de mortalidade infantil, enquanto as taxas de natalidade mantinham-se relativamente altas. Isso criou um momento demográfico caracterizado pelo incremento populacional de jovens entre 15 e 24 anos. Ao mesmo tempo, o grupo de pessoas com idade superior a 60 anos é o que mais cresce no mundo, com taxas de 3,26% ao ano.

    Essas duas tendências influenciam de maneira crítica o desenvolvimento social, econômico e ambiental das cidades. Manter a população jovem ocupada requer investimentos em educação, treinamento, estruturas de lazer e modelos inovadores. Por outro lado, a população que envelhece rapidamente demanda serviços de saúde, lazer, transporte e outras facilidades específicas para idosos. Além da garantia da proteção social e do equilíbrio econômico dos sistemas de aposentadoria.

    Desigualdade e exclusão social estão, sem dúvida, entre os maiores desafios relacionados ao crescimento da população urbana. A distância entre ricos e pobres atingiu o mais alto nível nos últimos 30 anos. Isso estigmatiza e afasta enorme contingente populacional da vida socioeconômica produtiva. A igualdade está relacionada ao equilíbrio na relação entre o indivíduo e o Estado, o que inclui a justa e equânime distribuição de serviços, oportunidades e benefícios.

    Não teremos uma sociedade realmente justa, evoluída e equilibrada se não tivermos mecanismos que diminuam essas desigualdades. Esse é o nosso grande desafio.

    claudio bernardes

    É engenheiro civil e atua como empresário imobiliário há mais de 30 anos. É presidente do Conselho Consultivo do Secovi-SP. Escreve às segundas.

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