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    Claudio Bernardes

    Big data pode ajudar na estruturação de cidades inteligentes

    27/11/2017 02h00

    Em todo o mundo, a urbanização é intensa e os seus efeitos colaterais são bastante conhecidos: congestionamentos, deterioração do meio ambiente, déficit habitacional, desemprego, enormes desafios nas políticas públicas e tantos outros que afligem as nossas cidades.

    Esse contexto nos faz compreender que as cidades modernas funcionam em três dimensões. A primeira delas é o espaço físico, com toda a infraestrutura construída e o meio ambiente em estado natural. A segunda inclui a sociedade, os habitantes urbanos e suas interações socioculturais. A última, e relativamente nova no ambiente do planejamento urbano, abrange o espaço cibernético, com seus sistemas computacionais, internet e, principalmente, fluxo de informações que trafega por esse ambiente informatizado, relacionado ao chamado big data.

    A diferença entre os bancos de dados tradicionais e o que chamamos de big data é que, no segundo caso, as informações armazenadas são geradas e processadas em tempo real, além de serem coletadas de forma contínua. Uma massiva quantidade de dados é obtida com o uso das mais variadas tecnologias de geração de informação, que descrevem e monitoram, em tempo real, inúmeros elementos urbanos, como edifícios, ruas, tubulações, redes de energia, pessoas, tráfego, logística e meio ambiente.

    Essas informações, derivadas da interação entre as inúmeras atividades urbanas, podem ser usadas não só para entender o funcionamento das cidades, mas também para interferir no planejamento de relações urbanas mais complexas e, dessa forma, estruturar uma cidade realmente inteligente. Além disso, o uso do big data urbano pode fortalecer o vínculo entre a administração municipal e a vida das pessoas, principalmente nos campos da saúde, educação, do transporte e da segurança, alterando a visão linear do dia a dia das pessoas para um ambiente multidimensional.

    A consequência direta dessa transformação é o advento do urbanismo orientado por dados e informações, mudando a forma de planejar e governar as cidades, possibilitando maior transparência e responsabilidade, além da convergência para uma economia mais forte, com melhor qualidade de vida e mais segurança.

    Contudo, o urbanismo baseado em informações processadas em tempo real não está isento de problemas. Geração, processamento, análise, compartilhamento e armazenamento de grandes quantidades de dados resultam em preocupações e desafios, com destaque para privacidade, proteção e segurança dos dados.

    Muitos dados urbanos importantes constituem-se de identificações pessoais e informações diversas sobre os cidadãos -características, localização, movimentos e atividades-, que são vinculados a fim de produzir dados derivados novos, a partir dos quais são criados perfis de pessoas e lugares e, sobre eles, tomadas decisões.

    Portanto, há preocupações reais sobre os danos que podem surgir do compartilhamento, da análise e do uso indevido de tais informações. A geração de dados em larga escala suscita inquietude quanto à criação de um Estado altamente vigilante e autoritário. O desafio, então, é tentar obter os benefícios de produzir e usar dados urbanos, minimizando sistematicamente os efeitos perniciosos e os eventuais danos. Essa é uma preocupação premente, dada a velocidade com que novas tecnologias estão sendo implantadas.

    De qualquer forma, e com todos os cuidados, é irreversível o uso do big data para promover o conhecimento da vida urbana, criar novas oportunidades e viabilizar o desenvolvimento de cidades efetivamente inteligentes.

    claudio bernardes

    É engenheiro civil e atua como empresário imobiliário há mais de 30 anos. É presidente do Conselho Consultivo do Secovi-SP. Escreve às segundas.

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