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    Claudio Bernardes

    Pesquisadores criam ferramenta para prever nível de tranquilidade urbano

    04/12/2017 02h00

    Em uma era dinâmica como a que vivemos hoje, cada vez mais o cotidiano torna-se agitado, intenso e frenético. Os intervalos de tempo entre uma e outra atividade ficam gradativamente mais curtos, e os índices de estresse dos habitantes das grandes cidades não param de subir.

    Em função dessa clara tendência, muita pesquisa tem sido feita com o propósito de compreender as melhores formas de produzir, nas cidades, nichos de tranquilidade, e como esses espaços podem ajudar a reduzir o estresse e a ansiedade das pessoas.

    Quando imaginamos um local tranquilo, na maioria das vezes idealizamos paisagens em ambientes exteriores naturais, como praias desertas e campos floridos. Locais onde os sons naturais se sobrepõem aos ruídos produzidos pelo homem.

    Não restam dúvidas de que espaços tranquilos são apropriados e recomendáveis para a saúde. No entanto, o dia a dia das cidades está repleto de caminhões, carros e motocicletas nas ruas, resultando em níveis maiores de ruídos, poluição visual e lixo. Para os moradores de grandes cidades, encontrar tranquilidade na vida diária pode ser um desafio.

    Por essa razão, Robert. J. Pheasanta, Kirill. V. Horoshenkov e Greg. R. Watts, pesquisadores das universidades de Leeds, Sheffield e Bradford, na Inglaterra, procuraram saber o que torna efetivamente o espaço urbano um ambiente tranquilo, e desenvolveram uma ferramenta capaz de prever níveis de tranquilidade.

    A ferramenta mede dois fatores: o nível de ruído produzido pelo homem, geralmente o tráfego, e a porcentagem de características naturais e contextuais no campo de visão das pessoas, incluindo, por exemplo, espaços com água e muita vegetação, ou lugares de onde é possível enxergar edifícios religiosos ou históricos.

    Com base nesses fatores, a ferramenta prevê a tranquilidade de um lugar dentro de uma escala de zero a dez. Quanto mais próximo a dez, mais tranquilo é o ambiente.

    Esses indicadores baseiam-se em estudos de laboratório, e foram desenvolvidos a partir dos resultados coletados junto às pessoas convidadas a participar do experimento. Elas avaliaram os níveis de tranquilidade após assistirem vídeos com grande variedade de ambientes. Esses vídeos incluíram desde áreas urbanas movimentadas até locais costeiros naturais, longe de qualquer desenvolvimento.

    Usando esse método, foi possível não só identificar espaços tranquilos existentes, e às vezes esquecidos, mas também propor formas de tornar outras áreas urbanas mais tranquilas e calmas.

    A pesquisa mostrou, por exemplo, que uma boa manutenção ao longo das avenidas, especialmente com árvores e vegetação, tende a oferecer melhor padrão de serenidade. Da mesma forma, os atributos visuais vinculados aos edifícios históricos atingiram altos níveis de tranquilidade.

    Os estudos mostraram que, para aumentar os níveis de tranquilidade em determinadas regiões, é necessário que o homem dê o primeiro passo e reduza a sua produção de ruídos. Para isso, ações como redirecionamento do tráfego, proibição de caminhões, pavimentação das vias com materiais que produzam baixo ruído e outras formas de barreira sonora podem ser importantes.

    Segundo os pesquisadores, o modelo foi aplicado com sucesso na previsão dos níveis de percepção de tranquilidade em uma grande variedade de espaços abertos e ao ar livre em regiões metropolitanas. Essa ferramenta terá inúmeras aplicações na concepção e no aperfeiçoamento de espaços urbanos e parques nas cidades, fornecendo uma estimativa dos níveis de tranquilidade possíveis de serem alcançados.

    Isso é importante porque, provavelmente, o nível de tranquilidade esteja relacionado ao valor de "restauro" desses espaços e, portanto, aos benefícios para a saúde e o bem-estar da população.

    claudio bernardes

    É engenheiro civil e atua como empresário imobiliário há mais de 30 anos. É presidente do Conselho Consultivo do Secovi-SP. Escreve às segundas.

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