• Colunistas

    Sunday, 05-May-2024 23:14:50 -03
    Claudio Bernardes

    É fundamental entender como as pessoas se deslocam nas cidades

    18/12/2017 02h00

    Compreender como os sistemas de mobilidade nas cidades devem evoluir é uma complexa tarefa, e o conhecimento dos dados reais acerca do comportamento das pessoas quanto às locomoções urbanas pode ser uma ferramenta importante para estruturar soluções.

    A CNT (Confederação Nacional de Transportes) publicou em agosto deste ano uma importante pesquisa sobre a mobilidade da população urbana no Brasil, com informações atualizadas e extremamente relevantes para dar a exata compreensão do comportamento dos brasileiros em seus deslocamentos diários.

    Danilo Verpa - 27.nov.2017/Folhapress
    SAO PAULO - SP - 27.11.2017 - Transito parado na marginal Pinheiros proximo ao parque Burle Marx sentido Interlagos. (Foto: Danilo Verpa/Folhapress, COTIDIANO ) ORG XMIT: TRANSITO PARADO
    Trânsito parado na marginal Pinheiros, perto do parque Burle Marx, no sentido Interlagos

    Segundo a pesquisa, 122 milhões de brasileiros que moram em áreas urbanas movimentam-se com frequência pelas cidades.

    As finalidades pelas quais as pessoas se deslocam coincidem bastante nas cidades com mais de cem mil habitantes. Os motivos do maior número de viagens diárias, em ordem decrescente, são trabalho, compras, estudo, tratamento de saúde e procura por emprego.

    Contudo, quando os dados foram estratificados por classes sociais, diferenças significativas apareceram. Na classe A, 62,8% das viagens destinam-se ao trabalho, enquanto nas classes D e E as viagens com este tipo de destino representam 45,7% do total. Enquanto na classe A somente 2,4% das viagens objetivam a procura de emprego, nas classes D e E esse índice sobre para quase 10%.

    Do outro lado, a frota de veículos automotores cresce de forma bastante significativa. No ano 2000, o número de veículos licenciados no Brasil era de aproximadamente 30 milhões. Em 2017, esse número chega a 97 milhões, sendo 52 milhões de automóveis, 25 milhões de motocicletas e um milhão de ônibus.

    A sustentabilidade do modelo de mobilidade é uma questão fundamental. Estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) mostrou que, enquanto um ônibus emite 1,28 kg de CO2/km, um automóvel emite 0,19 kg de CO2/km.

    Contudo, comparando um ônibus com ocupação máxima (45 passageiros) e um automóvel com a ocupação média (1,3 passageiro), os ônibus emitem 80% menos poluentes por passageiro em cada quilômetro. Isso reforça a necessidade da indução pelo transporte de massa.

    Em média, a distância percorrida pelos brasileiros em viagens urbanas é 10,7 km, com duração de 35,2 minutos. Especificamente para o motivo de trabalho, que é o mais representativo, a distância média percorrida é de 13,3 km, com duração de 37,7 minutos. Porém, nos municípios com população total acima de três milhões de habitantes, o tempo médio de viagem é de 46,2 minutos. Portanto, deveremos ter soluções diferentes para municípios de tamanhos diferentes.

    A pesquisa detectou que está havendo de forma gradual uma substituição dos ônibus por outros meios de transporte. A redução da utilização do ônibus é mais representativa entre os brasileiros com maior poder aquisitivo.

    Indivíduos das classes A e B deixaram de usar ou reduziram o deslocamento por meio de ônibus em 47,8% e 43,6%, respectivamente. Nestes casos, houve substituição pelo carro. As principais razões indicadas pelos entrevistados para a mudança no modo de transporte foram a falta de flexibilidade nas rotas e nos horários, o pouco conforto e os elevados tempos de viagem.

    Esses e outros dados dessa importante e abrangente pesquisa colaboram para identificar os entraves e os caminhos para implementar uma política de mobilidade urbana eficiente e sustentável que, seguramente, deverá utilizar avanços tecnológicos existentes, em um ambiente de planejamento urbano focado na diminuição dos deslocamentos diários.

    claudio bernardes

    É engenheiro civil e atua como empresário imobiliário há mais de 30 anos. É presidente do Conselho Consultivo do Secovi-SP. Escreve às segundas.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024