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    Clóvis Rossi

    Irã, com jeito vai; com força, não

    08/11/2013 14h48

    O Irã e as potências que com ele negociam um acordo em torno do programa nuclear podem até não fechar um entendimento esta semana, mas já está evidente que a moderação que o novo presidente, Hasan Rowhani, vem demonstrando está ganhando o jogo.

    Claro que conta com a inestimável ajuda da decisão do presidente norte-americano Barack Obama de não recorrer à força para resolver espinhosas questões internacionais.

    Comecemos por Obama. Por mais que os Estados Unidos insistam em que "todas as opções estão sobre a mesa", no caso do dossiê iraniano a opção militar já não está mais.

    Foi o que Obama antecipou a uma comissão de líderes da comunidade judaica levados na semana passada à Casa Branca, conforme revela o sítio "The Times of Israel".

    Obama disse a eles que uma intervenção militar - a opção preferida por Israel - poderia de fato retardar ou complicar o avanço iraniano rumo à bomba, mas não o impediria. Ao contrário: já que o país persa domina a tecnologia para a fabricação da bomba, um ataque só faria que redobrasse esforços para chegar a ela, no pressuposto de que sua posse tornaria impraticável um segundo ataque.

    Sem a ameaça militar, restariam as sanções, que, agora, os Estados Unidos parecem dispostos a abrandar em troca de concessões iranianas.

    Passemos agora a Rowhani e sua moderação, de que muita gente nos Estados Unidos (e especialmente em Israel) desconfia.

    Obama disse também aos líderes judeus que, se a comunidade internacional não se mostrasse ostensivamente receptiva aos esforços do novo líder iraniano, haveria o risco de que ele acabasse marginalizado pelo líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, com o que se perderia uma rara oportunidade para uma reaproximação.

    Abrandar as sanções é a melhor maneira, a única na verdade, de responder com moderação à moderação de Rowhani.

    Que o novo presidente iraniano está ganhando corações e mentes fica ainda mais evidente em outra revelação do "Times of Israel". Houve, recentemente, um encontro acadêmico de que participou Doron Avital, que foi comandante de uma tropa israelense de elite, juntamente com um general da reserva iraniano, identificado apenas como "expatriado".

    "Se se levar a sério o que ele [o general iraniano] disse, há uma séria mudança em direção ao Ocidente. Acho que houve uma mudança estratégica, e não apenas tática", contou Avital ao sítio noticioso de seu país.

    Mais: Avital disse ainda que ouvira avaliações semelhantes do comandante israelense da inteligência militar, major-general Aviv Kochavi, e de Yaakov Amidror, que acaba de se aposentar como assessor de segurança nacional.

    É evidente que a moderação que demonstra Rowhani não é apenas bom-mocismo. É produto direto das perturbações intensas que as sanções estão impondo à economia iraniana.

    Não importa o motivo. Importa que um acordo, que está parecendo viável, talvez até iminente, é bom para todos. Alivia o Irã, tira do horizonte o fantasma da bomba em mãos de uma ditadura teocrática e também o de um ataque militar que incendiaria o mundo. Resta agora segurar Israel, cujo primeiro-ministro rechaça o acordo com virulência, considerando-o "erro histórico".

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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