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    Clóvis Rossi

    Aécio assusta a Unasul

    16/10/2014 02h00

    O presidente re-reeleito da Bolívia, Evo Morales, explicita uma sensação sobre a perspectiva de vitória de Aécio Neves que esta Folha colheu também, informalmente, na Unasul (União de Nações Sul-Americanas, o clubão sul-americano):

    "Claro que é uma preocupação que a direita possa voltar", disse Evo a "El País".

    Na Unasul, a expressão que se usa é "um certo nervosismo", de resto fácil de explicar: parte dos governantes mais atuantes da Unasul são companheiros de viagem de Luiz Inácio Lula da Silva e, agora, de Dilma Rousseff.

    Sabem, portanto, perfeitamente, o jogo que os dois jogam.

    Aécio já anunciou jogo diferente, como, por exemplo, a aproximação com a Aliança do Pacífico (Chile, Peru, México e Colômbia), hipótese que Evo rejeita liminarmente.

    Argumenta que se trata de "um instrumento dos Estados Unidos" e que serve "para privatizar a água, a luz, o telefone".

    Para a Venezuela, a Unasul é um instrumento tão importante que está se formando uma comissão de economistas dos países do bloco, Brasil inclusive, para trabalhar junto ao governo de Caracas em um pacote que tente resolver a aguda crise econômica.

    É evidente que economistas do grupo Aécio levariam ideias incompatíveis com o bolivarianismo, o que tende a reduzir ou até a eliminar o papel positivo que a Unasul teve agora na crise venezuelana.

    Ernesto Samper, o ex-presidente colombiano que assumiu há dois meses o cargo de secretário-geral da Unasul, lembra que a mediação do conglomerado conseguiu brecar os protestos violentos da oposição.

    A mediação está suspensa, mas não se dissolveu o grupo de chanceleres que a impulsionou, formado por Brasil, Colômbia e Equador.

    Samper defende a tese de que é fundamental ampliar o que chama de pré-negociação entre governo e setores moderados da oposição, para que voltem a se sentar à mesa em "diálogo discreto e concreto".

    Ampliar não só o temário mas os atores, para incluir organizações sindicais e empresariais, sem cuja cooperação a Venezuela não conseguirá sair da aguda crise.

    Aí, volta-se ao nervosismo com a eventual vitória de Aécio: pela lógica, seu governo tende a apoiar os setores da oposição encabeçados por Leopoldo López, dirigente do Partido "Vontade Popular", atualmente preso. Maduro rejeita a participação do que considera radicais da oposição, empenhados em derrubá-lo pela força.

    É evidente que criar-se-ia um impasse na mediação, o que afetaria o papel e a importância da Unasul.

    Seria um erro do eventual novo governo: com todos os déficits democráticos claramente expostos na Venezuela chavista, o governo Maduro é legítimo. E é do interesse brasileiro que saia da crise, até para poder pagar as dívidas mantidas com empresas brasileiras.

    Ainda mais agora que, ao aceitar a comissão de economistas da Unasul, o governo Maduro dá um sinal claro de que reconhece o tamanho da crise e admite implicitamente que alegar como causa dela uma "guerra econômica" movida pela oposição não convence ninguém.

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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