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    Clóvis Rossi

    O bolso, a vida e o voto

    23/10/2014 02h00

    Se Aécio Neves perder a eleição, a causa mais provável é a diferença de percepção entre sua campanha e a de uma fatia ponderável da sociedade.

    Para o "aecismo", "se Dilma tiver mais quatro anos, acabará de quebrar o país e nos encaminhará para uma séria crise política e social", conforme escreveu nesta quarta-feira (22) o economista Edmar Bacha.

    Segundo o Datafolha, 50% dos eleitores de Dilma acreditam que a economia vai melhorar, e só 8% concordam com o economista.

    Entre parêntesis, não me perguntem, por favor, por que diabos 8% se dispõem a votar em Dilma se creem que a economia vai piorar.

    Mesmo entre os eleitores de Aécio, 43% acreditam que a economia vai melhorar, segundo o Datafolha. É sempre possível especular que o otimismo desses "aecistas" se deve à expectativa de que Aécio ganhará a eleição e, por isso, a economia melhorará. Mas essa correlação não foi feita na pesquisa, o que lhe retira caráter científico.

    O que fica claro é que o catastrofismo em relação à economia só pode render votos para Aécio entre os 15% que acham que a situação vai piorar e os 8% que não têm opinião.

    Esse dado ajuda a explicar por que Dilma derrota Aécio entre os indecisos (29% x 23%).

    Invertamos agora a hipótese e imaginemos uma explicação para a vitória de Aécio.

    Nesse caso, compro a teoria de Renato Meirelles, sócio-diretor do "Datapopular", instituto especializado em pesquisas sobre a classe C ou nova classe média, em entrevista desta quarta-feira a Carlos Alberto Sardenberg na CBN.

    Antes de entrar na teoria, é preciso deixar claro que a eleição será decidida pelos eleitores que ganham entre 2 e 5 salários-mínimos, que, grosso modo, correspondem à classe C ou nova classe média.

    É o que mostra o Datafolha: os mais pobres (até 2 mínimos) já estão decididos a votar majoritariamente em Dilma. Já os que ganham 5 salários mínimos ou mais estão majoritariamente com o 45 na ponta dos dedos.

    Mas há empate no grupo dos que ganham de 2 a 5 mínimos (45% para cada candidato).Em tese, esse pessoal deveria votar no PT, que se considera, não sem razão, como responsável por sua ascensão.

    Entra então Renato Meirelles: essa classe C sente que "sua vida não melhorou na velocidade que esperava". Hesita, portanto, entre a gratidão pelo progresso já experimentado e a insatisfação por não ter sido maior ainda.

    Ou –e aqui é minha interpretação– teme que sua ascensão não esteja consolidada. Podem ser derrubados para a pobreza, de novo, se a situação econômica se deteriorar (hoje por hoje, a economia tem desempenho medíocre, mas não está podre). Esse temor se expressa, na pesquisa do Datafolha, nos 26% que creem que o desemprego vai aumentar e nos 31% que acham que a inflação também vai aumentar.

    São minoritários, é verdade, mas em uma eleição tão apertada qualquer ponto percentual para mais ou para menos pode ser decisivo. A percepção, otimista ou pessimista, pela qual penderão os indecisos da classe C é que definirá o resultado.

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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