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    Clóvis Rossi

    Democracia é ideal, mas não basta

    09/12/2014 02h00

    Acho pouco que 66% dos brasileiros considerem a democracia como a melhor forma de governo, conforme a pesquisa Datafolha publicada nesta segunda-feira, 8.

    Para o meu gosto, 100% seria o mínimo. Mas, estabelecido que a grande maioria prefere a democracia, vem a questão seguinte: a democracia está funcionando?

    A resposta é não, segundo outra pesquisa, a do Latinobarômetro, tradicional medida anual dos humores em 18 países da América Latina.

    O mais recente levantamento (2013) começa por mostrar que a maioria acha que seu país não é governado para o bem da maioria.

    Na média geral do subcontinente, são menos de 30% os que acreditam que, sim, a maioria é beneficiada pelo governo.

    No Brasil, o resultado é ainda mais desagradável: menos de 20% dos brasileiros acreditam que a maioria se beneficia das ações do governo.

    Resultado ainda mais incômodo quando se lembra que 2013 foi o 11º de governos do PT, que se acredita e se vende como campeão mundial dos pobres e remediados.

    Segundo dado: na média da América Latina, apenas 40% se dizem "muito" ou "um pouco" satisfeitos com a maneira como a democracia está funcionando em seu país.

    No Brasil, de novo, os números são mais negativos ainda: apenas pouco mais de 20% se declaram satisfeitos, muito ou pouco, com o funcionamento da democracia.

    É um dos piores resultados, à frente apenas de Paraguai, Peru, México e Honduras.

    A culpa por esses resultados é o suspeito de sempre: a má qualidade dos serviços públicos, aí incluídos educação, saúde, segurança pública, mobilidade urbana, infraestrutura e o etc. de sempre.

    Ou posto de outra maneira: o pessoal adora eleger quem vai governá-lo, mas não está nada satisfeito com a maneira como o fazem.

    Há, entretanto, um segundo fator a explicar a insatisfação: a desigualdade. É persistente, em alguns casos, como o do Brasil, ou crescente em outros países, como, por exemplo, Estados Unidos e Espanha.

    Recente relatório sobre os ultrarricos, divulgado pelo gigante financeiro suíço UBS, mostra verdadeira obscenidade nessa matéria: os 211.275 biliardários são só 0,004% da população mundial, mas concentram 13% da riqueza do planeta.

    Na América Latina, eles são 14.805 e têm uma riqueza avaliada em US$ 2,225 bilhões (R$ 5,75 bilhões), o que dá, grosso modo, 1% de toda a economia do Brasil.

    Se a desigualdade fosse um problema ético ou moral, já seria insuportável, ao menos do meu ponto de vista.

    Mas há nela um aspecto, a interferência negativa no crescimento econômico, que ajuda a entender o descontentamento com o funcionamento da democracia.

    É o que constata relatório a ser divulgado nesta terça-feira (9) pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, o clubão dos 34 países mais ricos do mundo).

    Diz: "Reduzir a desigualdade de rendimento estimularia o crescimento econômico. Países em que a desigualdade está se reduzindo crescem mais rapidamente do que aqueles com desigualdade crescente". É aí que a democracia está devendo.

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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