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    Clóvis Rossi

    Todos ganham com Cuba de volta

    18/12/2014 02h00

    No primeiro encontro com o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Barack Obama lhe disse que pretendia normalizar relações com Cuba até o fim de seu primeiro mandato.

    Não conseguiu, mas agora, na metade do segundo período, cumpriu a promessa, o que é bom para todos, Estados Unidos, Cuba, Brasil e a América Latina em geral.

    Para Cuba, é mais fácil quantificar o benefício: seu chanceler, Bruno Rodríguez, calculou recentemente que o prejuízo com os 50 anos de embargo foi de impressionante US$ 1,126 trilhão (R$ 3 trilhões).

    Dá, pouco mais ou menos, a metade de todo o PIB brasileiro.

    Por mais que ainda demore para que o embargo propriamente dito seja derrubado, ainda assim é óbvio que a vida ficará mais fácil para os 2 milhões de cubanos que vivem nos Estados Unidos e para que
    façam negócio com a ilha.

    Dois milhões são quase 20% de toda a população de Cuba (11 milhões), o que torna as remessas e os negócios que podem gerar um tremendo maná para a ilha caribenha.

    Será com toda a certeza um impulso para a difícil transição em que Cuba está empenhada, de um sistema econômico totalmente estatal para outro em que o setor privado acabará sendo predominante, com o tempo.

    Aliás, essa perspectiva embasa a iniciativa de normalizar as relações, como deixou claro a Casa Branca, no comunicado a respeito.

    Washington aposta que as ações anunciadas nesta quarta-feira "liberarão o potencial dos 11 milhões de cubanos ao pôr fim à desnecessárias restrições a suas atividades políticas, sociais e econômicas".

    Os Estados Unidos ganham também ao remover um permanente estorvo às suas relações com todos os países latino-americanos. Mesmo aqueles que não têm a mais remota simpatia pelo regime guardam a Cuba da romântica revolução de 1959 na sua memória afetiva.

    Por isso, todos haviam decidido que Cuba teria que participar da 7ª Cúpula das Américas, em maio, o que criava para Obama uma escolha de Sofia: ou ele próprio desistia de ir a um evento criado pelos EUA ou o encontro fracassaria.

    Agora não. A cúpula será uma festa da família americana reunida.

    É claro que, como é do DNA norte-americano, fazer negócios com Cuba influenciou na decisão de rever uma política que, de todo modo, fracassara redondamente.

    Para o Brasil, o lucro potencial virá, principalmente, do porto de Mariel, ampliado com financiamento brasileiro do BNDES.

    A decisão de financiar o porto foi tomada a partir da pressuposição de que ele só teria sentido econômico se fosse para exportar para os Estados Unidos, o que exigiria o levantamento do embargo.

    Agora que este está à vista, o Brasil fica bem posicionado para exportações via Cuba.

    Além disso, a normalização pressupõe que, com o tempo, cairá a lei Helms-Burton, que pune empresas não norte-americanas que façam negócios com Cuba.

    Firmas brasileiras já não precisarão, portanto, recorrer a triangulações com terceiros países para ganhar dinheiro com negócios com a ilha caribenha.

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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