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    Clóvis Rossi

    Um acordo realmente histórico com o Irã

    02/04/2015 18h20

    Por mais que o jornalismo em geral abuse da qualificação de "histórico" para determinados eventos, dessa vez o plano de ação sobre o dossiê nuclear iraniano de fato merece esse rótulo —aliás usado pelo presidente Barack Obama, menos inclinado que a mídia a usar a grandiloquência.

    Para justificar o rótulo, o próprio presidente fez as perguntas certas ao responder, de antemão, às críticas que seguramente serão feitas ou já estão sendo feitas.

    Disse o presidente: "Quando você ouvir as inevitáveis críticas sobre o acordo, faça uma simples pergunta [ao crítico]: Você realmente acha que esse acordo, verificável, se plenamente implementado, apoiado pelas maiores potências mundiais, é uma opção pior que o risco de outra guerra no Oriente Médio?"

    A resposta óbvia é não, claro que não. Sem o acordo, a alternativa seria atacar o Irã e provocar, portanto, uma guerra —cenário apocalíptico.

    Segunda pergunta do presidente: "O acordo é pior do que fazer o que viemos fazendo por quase duas décadas, [durante as quais] o Irã levou adiante seu programa nuclear e sem inspeções rigorosas?"

    Outro não é a resposta certa.

    As sanções e o isolamento do Irã, como é sabido, não levaram o país a desistir nem sequer a desacelerar seu programa nuclear.

    É evidente que sempre resta a hipótese de que o Irã viole os termos do acordo. Mas o rigoroso mecanismo de vigilância que ele prevê torna mais difícil enganar a comunidade internacional, que, afinal, não é composta por bobinhos ingênuos.

    Um acordo histórico talvez não baste, no entanto, para vencer as resistências dos republicanos no Congresso norte-americano ou em Israel.

    No Congresso, o que há é uma resistência política e não técnica ao acordo: os republicanos querem impedir que Obama tenha um êxito formidável em política externa.

    Já Israel tem uma natural resistência atávica a acreditar em um regime que, mais de uma vez, manifestou publicamente o desejo de aniquilar o Estado judeu.

    Nos três meses até o acordo definitivo, em junho, se verá se vai prevalecer o caráter histórico do acordo preliminar ou as resistências a ele. É o que determinará o caráter final do acordo definitivo.

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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