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    Clóvis Rossi

    O Brasil e seus tristes números

    16/04/2015 02h00

    Já está ficando monótono: saem indicadores internacionais, e os números do Brasil dão enorme tristeza.

    Não é apenas a nova previsão do Fundo Monetário Internacional, indicando retração de 1% para a economia brasileira. É ruim, mas mais ou menos esperado.

    Além disso, sempre se poderia esperar, torcer, desejar, sei lá, que seja algo apenas cíclico, que se reverterá em algum momento futuro.

    O problema fica maior, no entanto, quando se adota um olhar de longo prazo, ainda mais se comparado com o país, a China, cujo nível de crescimento é objeto universal de desejo.

    A China cresceu 7% no primeiro trimestre, segundo os dados do governo. É uma derrapada em relação aos 7,3% do trimestre anterior e aos 7,4% do ano de 2014.

    Mas, comparado com o Brasil, é uma maravilha. Ainda mais que a desaceleração é fruto de planejamento, da decisão do governo de priorizar o consumo sobre o investimento -aliás, uma reivindicação constante dos parceiros chineses, Estados Unidos entre eles.

    Diz a respeito a "Economist": "O consumo está superando o investimento como o mais poderoso motor da economia, transição que colocará a China em um caminho mais sustentável".

    Acrescenta: "Crescimento mais lento é também parte do plano do governo para corrigir os males da economia. Os líderes chineses querem controlar as dívidas, que subiram para alturas preocupantes".

    Planejamento, pois, é a chave, a chave que falta no Brasil, desde sempre.

    Por isso, no longo prazo, o Brasil foi ficando para trás, como demonstra um artigo comparativo publicado no número 1 de "Cadernos de Política Exterior".

    O diplomata Francisco Mauro Brasil de Holanda lembra que, em 1970, a economia brasileira equivalia a 1,5% do PIB mundial, ao passo que a China ocupava apenas 0,8%.

    No ano mais recente citado no belo artigo (2011), o Brasil detinha 2,1% da economia mundial, para 8,1% da China.

    Olhe-se para o comércio e a diferença na evolução é muito parecida: nos anos 80, a participação do Brasil no comércio global era de 1,3%, mesma porcentagem da China.

    Hoje, a da China é dez vezes maior, enquanto o Brasil ficou praticamente estacionado.

    Indústria? Pior ainda: em 1980, a produção de manufaturados do Brasil equivalia à soma de China, Malásia, Coreia do Sul e Tailândia; hoje, é de apenas 7% desse conjunto.

    A tendência inexorável é para piorar: relatório do Fórum Econômico Mundial, divulgado nesta quarta-feira (15), mostra que o Brasil está em um remoto 84º lugar entre 143 economias em matéria de boa utilização da tecnologia da informação e comunicação.

    Nesse capítulo, não é que perde apenas para a China ou para países desenvolvidos. Fica atrás de latino-americanos como Chile, Barbados, Costa Rica, Panamá, Colômbia e México.

    Desnecessário dizer que tecnologia da informação é a chave para o desenvolvimento na economia contemporânea.

    O fato é que o Brasil é prisioneiro eterno do curto prazo, como agora em que o único planejamento é para acertar as contas.

    Falta um projeto de país.

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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